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Fernanda Torres: a vida presta, e muito!

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Atual símbolo do reconhecimento da arte brasileira ao redor do mundo – a atriz é o nome
do momento após faturar o Globo de Ouro e ser indicada ao Oscar de melhor atriz

Atriz, escritora, colunista e roteirista, Fernanda Torres é considerada uma das grandes artistas de sua geração. Com carreira no teatro, no cinema e na televisão, Fernanda Torres estreou como atriz aos 13 anos e, aos 40, como escritora. Começou no cinema aos 16 anos em “Inocência”, dirigido por Walter Lima Junior, e atuou em diversos filmes que marcaram o renascimento do cinema brasileiro a partir dos anos 90. Mas não é a primeira vez que ela faz o coração do brasileiro bater mais forte ao redor do mundo, já causando um grande impacto em 1986, quando conquistou, com apenas 20 anos de idade, a Palma de Ouro no Festival de Cannes, por sua atuação em Eu Sei que Vou te Amar. Depois disso, ela tornou-se um grande alívio cômico para uma sociedade brasileira que driblava a inflação e o desemprego. Nos anos 2000, levou o país inteiro às gargalhadas interpretando a debochada Vani, em Os Normais, e posteriormente com a hilária Fátima, de Tapas e Beijos. Mesmo por trás das lentes – ela também tem uma prolífica trajetória como roteirista e escritora –, Fernanda cativou o público recentemente no streaming, com a série O Fim, baseado em seu primeiro romance, em 2013. Mas foi quando o filme ‘Ainda Estou Aqui’ – baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva e dirigido por Walter Salles, que remonta a história da mãe do escritor, Eunice Paiva (interpretada por Fernanda), passando a vida batalhando para trazer justiça ao caso do marido, o ex-deputado Rubens Paiva (vivido por Selton Mello), torturado até a morte em 1971 e dado como desaparecido durante o governo militar – foi aplaudido de pé por mais de dez minutos ininterruptos em sua primeira exibição no festival de cinema italiano – onde levou o prêmio de melhor roteiro, além da crítica especializada considerar Fernanda uma grande concorrente aos prêmios, inclusive ao Oscar, que os brasileiros entraram em alerta, até porque, a última a conseguir este feito internacional foi sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de melhor atriz em 1999, por sua atuação em Central do Brasil, também de Walter Salles, que concorreu naquele ano a melhor filme estrangeiro. Agora, Fernanda encara a maior maratona de sua carreira. No dia 05 de janeiro, ela faturou o Globo de Ouro para melhor atriz em drama, concretizando uma onda de torcida e afeto, não somente dos brasileiros, mas até mesmo de suas adversárias estelares. Com a estreia, no último Festival de Veneza, no dia 7 de janeiro em circuito comercial, a trajetória da atriz está rodando o mundo e ela torna-se uma grande concorrente ao Oscar. Nesta entrevista para a The Winners, ela fala sobre a preparação para o filme, o que ele representa para o Brasil e o mundo e como sua história mostra a força dos brasileiros, assim como eles estão mostrando, agora mesmo, na torcida por Fernanda. Confira!

The Winners – A história do filme é contada pelo ponto de vista da Eunice, o que ela representa hoje para o Brasil?

Fernanda Torres – Eunice Paiva é uma mulher importantíssima, que dedicou sua vida à luta contra a violência de Estado. Mãe e dona de casa, ela se formou em advocacia após a viuvez, e compreendeu que a tragédia que se abateu sobre sua família, o assassinato de Rubens Paiva nos porões da Ditadura Militar, não diferia daquela enfrentada por indígenas, periféricos, pobres, negros e minorias. Neste momento de fragilidade democrática, resgatar a memória de Eunice Paiva nos faz refletir sobre o risco de se optar por um Estado autoritário. Ainda Estou Aqui” é um filme sobre o silêncio. O silêncio de um país que optou pela brutalidade, pela truculência, agindo na surdina, e de uma mulher que não tem respostas para dar a seus filhos sobre o porquê de o pai ter desaparecido. Rubens Paiva foi levado de casa e nunca mais apareceu. Nem mesmo o corpo foi devolvido, para que a família pudesse velá-lo. Só sobrou o silêncio. Hoje, sabemos dos fatos, da tortura e da morte, mas Eunice e seus filhos só chegariam a entender as razões da tragédia que os acometeu décadas depois do ocorrido, com a abertura política e a Comissão da Verdade. Seja pelo horror ou pela falta de respostas, Eunice se calou, foi em frente, amadureceu, deixando que cada um matasse o pai à sua maneira e em momentos diferentes. De esposa e mãe, ela se reinventou como advogada, confiando na justiça como instrumento de reparação. Eunice, assim como o Brasil, foi obrigada a abandonar um sonho utópico de família e de país, para existir numa nova realidade crua, dura e adversa. Os Paiva encarnavam o Brasil progressista, da bossa nova, do modernismo, de Brasília, do país do futuro. Esse Brasil progressista foi perseguido, torturado e calado por uma ditadura militar impulsionada pela Guerra Fria. Em 1979 viria a anistia, que abriria as portas para a redemocratização do país. Chamada de “ampla, geral e irrestrita”, essa anistia perdoou tanto aqueles que foram exilados e perseguidos, quanto os que torturaram e mataram em nome do Estado. Ao contrário da Argentina, o Brasil varreu para debaixo do tapete a violência de Estado e se refundou através de uma Constituição que viria garantir os nossos direitos democráticos. Mas a violência se perpetuou, seja na maneira de agir das nossas polícias, seja no desprezo à democracia que hoje nos ameaça. Eunice suportou de forma estoica e, como advogada, lutou tanto pelo reconhecimento do crime cometido contra seu marido quanto pelos abusos arbitrários cometidos contra as minorias e os povos originários. O Brasil e Eunice se confundem, são quase sinônimos, no silêncio e no amadurecimento pelos quais passaram.

The Winners – Acredita que a história dela fala de que forma para as mulheres do mundo todo?

FT – Eunice foi uma mulher criada para casar e ter filhos. O pai dela achava inútil a insistência da filha em cursar letras e Rubens, o marido, se incomodava com a vontade da esposa de trabalhar. A tragédia a obrigou a abandonar o posto de mulher tutelada pelo marido e assumir o comando da casa, da vida. Eunice enfrentou a perseguição, a humilhação, a injustiça, teve medo de morrer e se reinventou sozinha. Como muitas mulheres, fez tudo sem abandonar seu papel de mãe. Me impressiona o fato de ela jamais ter tido a necessidade de ter reconhecimento público pelas lutas que moveu. Avessa à posição de vítima, Eunice se deixou ser conhecida como a viúva de Rubens Paiva e, mais tarde, como a mãe de Marcelo Rubens Paiva enquanto estava à frente de ações importantíssimas pela criação de reservas indígenas. É uma mulher feminina, elegante, inteligente e imensa, que moveu revoluções através da educação e da justiça. É um exemplo de força e contundência para todas nós. Uma das passagens mais bonitas do livro do Marcelo é o momento em que ele, ao ver a mãe exibir o atestado de óbito do pai para uma frente de jornalistas, num processo que lhe havia custado vinte e seis anos de batalha, o filho reconhece que a verdadeira heroína da família era a mãe, não ele ou o pai.

Fernanda Torres como Eunice Paiva, no filme ‘Ainda Estou Aqui’

The Winners – Como é dividir novamente uma personagem com sua mãe? Vocês conversaram sobre a composição da personagem?

FT – Conversamos pouco sobre o filme. Ela pediu para ver o que eu havia feito, antes de filmar o final. De vez em quando, a vida nos presenteia com uma parceria, já fizemos teatro juntas, cinema, e até a Lina Bo Bardi, numa instalação do maravilhoso artista plástico Isaac Julien. Não me lembro de nenhuma experiência ruim, somos pé de coelho uma da outra. E o “Ainda Estou Aqui” é especial, porque é nosso reencontro com o Walter. É o terceiro filme que faço com ele e o segundo de minha mãe. Juntos, os três, e mais Daniela Thomas, com quem também fizemos teatro e cinema – e que fez de tudo um pouco neste filme – fazemos cinema de grupo, somos uma companhia de cinema, como existem companhias de teatro.

Fernanda com seu prêmio de Melhor Atriz de Drama, no Globo de Ouro
Guilherme Silveira, Selton Mello, Fernanda Torres, Cora Mora, Walter Salles, Valentina Herszage, Bárbara Luz e Luiza Kosovski

The Winners – Como foi o seu trabalho de construção da Eunice, a partir do livro e das fotos que você teve acesso sobre a vida dela? Você conversou com Marcelo ou com outras pessoas da família?

FT – Me baseei muito no livro, um livro belíssimo, de um filho que descobre que a grande heroína da família era a mãe, a mãe discreta, que nunca fez questão de ser protagonista. Assisti a muitas entrevistas dela e procurei encontrar a sua essência. Eunice é fortíssima, porém doce, feminina. Antes da primeira leitura do roteiro que, de cara, me arrebatou, fiz um mês de laboratório com uma mulher muito especial, a Helena Varvaki que me ajudou a me aproximar da Eunice. Depois, já na pré-produção do filme, a maravilhosa Amanda Gabriel fez a preparação de atores do filme. Com a Amanda, formamos o sentido de família. Ela nos acompanhou o tempo todo, é atriz, sabe o que dizer, sugerir, lembrar. Perdi dez quilos para a Eunice, mudei de corpo, de alma, passei um ano na pele dela. Ouvi muita Ella Fitzgerald a caminho da filmagem, que eu achava que ela ouviria. Foi muito bonito, longo, delicado e profundo, o processo de aproximação da Eunice. Só assisti ao que fiz agora e me impressionou o realismo, a honestidade de interpretação que acho que todo o elenco alcançou. Não me senti atuando, o que é raro de acontecer. E reencontrar o Walter, que tem o sentido da sacralidade da cena, do respeito e da busca de algo honesto, profundo. Foi dessas experiências raras, das quais se sente saudade para sempre.

 

The Winners – Você já tinha lido o romance do Marcelo Rubens Paiva em que o filme é baseado ou leu quando recebeu o convite? O que mais te marcou na leitura dessa história?

FT – Já, li assim que foi lançado. Eu sempre soube que o Rubens havia sido torturado e morto, mas não conhecia o como e nem o porquê. Acho até que pelo fato de a Eunice não ter querido se transformar na viúva enlutada, pelo fato de ela ter seguido em frente, delegando para a justiça o processo de reparação. E sou contemporânea do Marcelo, o Rio de Janeiro que ele descreve no livro, dos anos 1970, foi onde eu cresci e me criei. Eu sei o cheiro dos lugares que ele descreve, a Eunice lembra, em muitos momentos, minha mãe jovem. Foi como voltar à infância, mas na pele do adulto da sala. “Ainda Estou Aqui” é um livro deslumbrante sobre um filho que, na maturidade, consegue, afinal, enxergar os seus pais. É um livro também sobre um Brasil extinto, progressista, um país imaginado pela geração dos meus pais e dos Paiva.

The Winners – Este é o terceiro filme que você faz com Walter Salles, o primeiro foi “Terra Estrangeira” e depois “O Primeiro Dia”. Como foi esse reencontro no set com Walter e com Daniela Thomas, que assina como produtora associada do filme, depois de todos esses anos?

FT – O “Terra Estrangeira” foi um filme fundador para nós três. Um filme de juventude e de descoberta. Com ele, o Walter descobriu que cineasta ele era, de que forma gostava de filmar, com uma equipe ágil e pequena, como a dos documentários que fazia. A Daniela trouxe o processo teatral, colocou os atores para improvisar, como fazíamos no palco. Vendo-a mexer no roteiro, improvisando conosco, foi que eu percebi que escrever e atuar tinham algum parentesco. Que eu poderia usar a improvisação para criar algo no papel. Somos uma companhia de cinema, fazemos cinema de grupo, com cada um cuidando do seu trabalho, mas cientes de que somos autores do todo. Foi muito, mas muito emocionante reencontrar o Walter depois de grande, para fazer um filme da nossa maturidade, e ainda ter a Daniela por perto.

Walter Salles e Fernanda Torres

The Winners – Como você imagina que essa história vai ecoar no público e o que você destacaria de mais relevante e atual nesta história?

FT – Filmes sobre períodos históricos costumam se debruçar nos fatos. Existe o drama, mas ele é sempre entremeado por explicações factuais. O Walter se ateve ao sentimento da família, ao estupor, à dor, ao amor e ao silêncio. Nisso, o filme é muito poderoso. Fiquei muito tocada pela representação realista, honesta e franca de todos nós… O filme nos coloca na pele daquela família, você vive com eles o não saber, o não entender e o lamento de uma vida interrompida, de algo sem retorno e do qual não é possível sequer conversar. Os super 8 caseiros são o que resta daquilo que poderia ter existido e que é tanto a família completa, com um pai tão luminoso e presente, quanto o próprio país desejado. Essa, penso, é a maior qualidade do filme, o fato de ele reproduzir a falta de respostas que os Paiva enfrentaram e o que se sente numa situação assim. Não é drama, é tragédia, é Antígona, algo que não permite sequer a lágrima, ela é de uma brutalidade tamanha que te obriga a seguir. Nesse sentido, não é um filme sobre o que aconteceu lá atrás, nos anos de chumbo, é um filme sobre o agora, sobre como perseverar e enfrentar a desgraça. É um filme sobre a resistência do amor, da dignidade, da justiça, sem espaço para o melodrama.

*Entrevista compartilhada em parceria com a Agência Primeiro Plano e Sony Pictures

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