Um ano de desafios e oportunidades
Por: João Roberto Benites, Presidente do Conselho de Administração da Tekno S/A. Conselheiro certificado pelo IBGC. É especialista em expansão estratégica de empresas
É bem verdade que ninguém imaginava um 2023 tranquilo, de brisa e água fresca. No Brasil, esse não é o cenário que as empresas costumam vivenciar. Mas acredito que o enredo está se mostrando ainda mais desafiador do que as previsões apontavam. Não bastavam a missão de superar os problemas deixados pela pandemia; acompanharmos às diretrizes de um novo governo, trazendo mudanças em todas as frentes – econômica, política e social; ainda começamos o ano com uma forte crise de confiança e financeira que parece ter vários capítulos pela frente. O caso Americanas, surpreendente por si só, abriu a porta para novos anúncios alarmantes. Nessa esteira temos: Oi (OIBR3), Azul (AZUL4), Light (LIGT3), CVC (CVCB3) e Marisa (AMAR3). Algumas marcas começam a tornar público seu lado sombrio, com dívidas de valores bem significativos. Outras, em grau mais avançado de prejuízo, nos chocam com a triste notícia de possível falência. Acompanhando as notícias, vamos nos surpreendendo com o tamanho do imbróglio. Em matéria bem analítica da renomada revista Capital Aberto, podemos ler que a dívida declarada das Americanas está na ordem dos R$ 43 bilhões com mais de 16 mil credores. A varejista já é a quarta maior do Brasil em Recuperação Judicial, depois da Odebrecht, Oi e Samarco.
Observar e aprimorar
Tais episódios nos levam a refletir profundamente sobre os pilares da boa gestão e do compromisso que uma organização tem com seus diferentes stakeholders. Essas crises de dimensões abissais geram graves consequências para vários grupos, incluindo funcionários, investidores minoritários e fornecedores. Deixo aqui minha sugestão de adotarmos o hábito da permanente reflexão – nossa empresa conta com fortes controles de boa governança, incluindo os comitês de auditoria (fiscal e financeira), de riscos e de responsabilidade social? Quais os controles e auditoria em nosso Código de Ética? Como podemos nos equipar – com comitês, estudos, consultores externos e internos – para melhor orientar nossas decisões de negócios? Como zelar de forma mais precisa e eficaz pelos interesses e direitos dos investidores? Como presidente de um Conselho de Administração de uma grande indústria, me empenho em me cercar de informações e dados que possam me apoiar na construção de entregas de valor ao colegiado que integro. Pesquisar, analisar, buscar capital intelectual relevante para apoiar as decisões do Conselho e dos executivos – tudo isso precisa fazer parte da rotina de quem abraça essa missão. Estudo realizado anualmente pela EY Center for Board Matters (CBM), líder global em serviços de auditoria, impostos, transações e consultoria, na edição de 2022, apontou quais seriam as pautas prioritárias dos Conselhos de Administração para esse ano. A pesquisa ouviu centenas de conselheiros de vários países da América Latina, entre eles: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. Os temas destacados foram:
- Ambiente regulatório e políticas públicas: 44%
- Transformação digital e uso adequado de novas tecnologias — inteligência artificial, machine learning, blockchain etc: 43%
- Cultura e propósito da companhia: 41%
- Planejamento estratégico de longo prazo e alocação de capital: 37%
- Resultado, performance e metas econômico-financeiras: 33%. Ao ler sobre essa pesquisa, vejo, com satisfação, que o senso comum aponta para uma pauta comprometida com a melhoria em todos os eixos importantes. Esse será sim um ano de muita transformação e desafios, mas também de oportunidades de crescimento para os que se dedicarem com vontade.