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Wilson Ferreira Júnior: o presidente que conseguiu tirar a Eletrobras de uma crise profunda

14/06/2019 18:43 | Atualizado há 2 anos
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No comando da Eletrobras desde 2016, o presidente Wilson Ferreira Junior encontrou uma empresa em crise profunda e, como resultado de seu trabalho, elevou o valor de mercado da companhia de R$ 9 bilhões para R$ 50 bilhões no biênio 2016-2018

A crise profunda enfrentada pela Eletrobras está superada. Conduzindo a empresa desde 2016, Wilson Ferreira Junior colhe os frutos do trabalho que vem realizando para reduzir os sucessivos prejuízos financeiros, a baixa capacidade de investimento e a dificuldade de captação de recursos.

E não faltam exemplos expressivos desses resultados: o valor de mercado da companhia saltou de R$ 9 bilhões, no início de 2016, para mais de R$ 33 bilhões em 2018, chegando a R$ 50 bilhões em fevereiro de 2019.

Em 2018, a privatização das empresas de distribuição que faziam parte do grupo Eletrobras e a venda das participações minoritárias em 26 sociedades de propósito específico, Trabalho e valorização no montante de R$ 1,3 bilhão, foram de suma importância na execução da estratégia de recuperação da companhia.

Os efeitos desses desinvestimentos se refletiram na redução dos níveis de alavancagem e melhora do Ebitda da companhia. No primeiro trimestre de 2019, a relação Dívida Líquida/Ebitda ajustado da companhia atingiu o índice de 2,2, apresentando uma redução substancial sobre o elevado índice de 8,5 registrado em setembro de 2016.

Importante indicador da saúde financeira de uma empresa, o número simboliza o desafio e os esforços da companhia em busca da excelência sustentável.

Liderando um amplo programa de reestruturação da companhia, Wilson Ferreira Junior priorizou ações pautadas nos pilares disciplina financeira, excelência operacional e governança e conformidade.

O cronograma de muitos empreendimentos importantes foi colocado em dia e, em 2018, foi concluído o fechamento do ciclo das usinas de Mauá 3 com potência total de 590,7 MW e o investimento na hidrelétrica de São Manoel com 700 MW de capacidade instalada.

Já em 2019, serão concluídas as obras da usina Sinop, com cerca de 402 MW, e a usina de Belo Monte entrará em plena operação, tornando-se a terceira maior hidrelétrica do mundo, com capacidade instalada total de 11.233 MW.

No que se refere à excelência operacional, em apenas dois programas — Centro de Serviços Compartilhados e Sistema de Gestão Integrada —, a padronização e a otimização de processos proporcionam uma economia anual estimada da ordem de R$ 617 milhões. Já com os programas de desligamento de empregados, em 2018, houve uma economia de R$ 309 milhões.

Os programas de demissões incentivadas continuam a ser realizados em 2019 e, até junho, já houve 437 adesões, com economia anual estimada de R$ 181 milhões. Na área de Governança e Conformidade, a companhia instalou seu Comitê de Auditoria Estatutário e, pela primeira vez, realizou uma avaliação independente dos órgãos de governança da empresa e de suas controladas.

Como reconhecimento dessas evoluções, a Eletrobras foi certificada no programa Destaque em Governança de Estatais da B3, voltou ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), também da B3, e recebeu, pela segunda vez consecutiva a nota máxima no indicador de governança IG-Sest. Em paralelo, foram encerrados os questionamentos perante a Securities and Exchange Commission (SEC) e com os litigantes na class action contra a Eletrobras no exterior, além de ter encerrado as discussões com o Department of Justice (DOJ), que declinou de processar a empresa.

O novo momento da companhia está simbolicamente representado pela modernização de sua estrutura operacional e pelas novas instalações. Pela primeira vez em 57 anos de história, o escritório central da Eletrobras, no Rio de Janeiro, foi concentrado em um prédio que, desde dezembro, vem proporcionando economia de custos e sinergia de trabalho.

Também em dezembro, a Eletrobras lançou o Plano Diretor de Negócios e Gestão para o período de 2019 a 2023, o qual estabelece cinco diretrizes estratégicas: Crescimento Rentável; Atuação Sustentável; Valorização das Pessoas; Excelência Operacional e Aprimoramento da Governança e Integridade Empresarial.

Limpa e renovável

Cerca de 95% da capacidade instalada da companhia é oriunda de fontes com baixa emissão de gases de efeito estufa (“GEE”), como solar, nuclear, eólica e hidráulica, o que faz da Eletrobras uma das maiores do mundo em geração de energia limpa e renovável e a empresa que mais contribui para a matriz elétrica brasileira ser a segunda mais limpa e renovável do mundo, perseguindo, assim, a missão e visão de seu Planejamento Estratégico.

Como signatária do Pacto Global, em 2018, a Eletrobras apoiou, continuamente, importantes iniciativas, como a adesão ao Compromisso Empresarial Brasileiro de Segurança Hídrica e aos projetos selecionados a partir da priorização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que compõem a Agenda 2030. Dada a sua participação na matriz elétrica do país, em 2018, do total instalado oriundo de fontes com baixa emissão de GEE, 41% pertencem à Eletrobras.

No primeiro trimestre do ano, o Brasil alcançou a capacidade instalada de 163,8 GW, dos quais a Eletrobras contribuiu com 49,7 GW, ou seja, 30,3% do total da geração do país. A malha de linhas de transmissão das empresas Eletrobras atingiu, no primeiro trimestre do ano, aproximadamente, 71.253 km, o que representa cerca de 47% do total das linhas do Brasil com tensão igual ou superior a 230 kV.

Resultados expressivos

Prestes a completar três anos na presidência da maior empresa de energia elétrica da América Latina, Wilson Ferreira Junior acumula resultados expressivos na gestão da Eletrobras e a motivação para ir ainda mais longe.

“Nossa grande conquista foi recuperar a confiança do mercado e da sociedade na Eletrobras”, resume. O executivo conta, nesta entrevista, suas principais realizações na companhia, tendo como diretrizes estratégicas governança e conformidade, disciplina financeira e excelência operacional.

The Winners – Qual a relevância da Eletrobras para o setor elétrico?

Wilson Ferreira Junior – A trajetória da Eletrobras, criada em 1962, confunde-se com a história do setor elétrico no Brasil, com o desenvolvimento do país e com a sua capacidade de gerar riquezas e empregos. Ser líder da Eletrobras, o maior player deste setor, significa estar à frente da maior empresa de energia elétrica da América Latina, a quinta maior geradora hidrelétrica do mundo, responsável por cerca de um terço de toda a geração de energia do país e de quase metade do sistema de transmissão que interliga todas as regiões do Brasil.

São dados que dão a dimensão da relevância da empresa não apenas para o setor em que ela atua, mas para milhões de brasileiros que contam com a contribuição da Eletrobras, todos os dias, para garantir a energia de que precisam em suas casas, em seus trabalhos, em suas vidas.

Wilson Ferreira Junior Presidente da Eletrobras

TW – Quais seus principais desafios na presidência da empresa?

WFJ – Encontramos a Eletrobras, em 2016, na maior crise de sua história, com uma dívida bruta de R$ 45,5 bilhões, aprofundada pela participação em grandes projetos por decisão do então governo, quando a empresa já apresentava prejuízo.

A medida provisória 579, de 2012, reduziu em 65% o valor das tarifas nas concessões de controladas da Eletrobras que venciam em 2015, o que agravou a situação econômico-financeira da companhia, levando-a a acumular em apenas quatro anos prejuízos de mais de R$ 30 bilhões e a perder 20% da sua Receita Operacional Líquida.

O patrimônio líquido da empresa teve redução aproximada de 45% de 2011 a 2015. Obras em atraso e fraquezas materiais – sinais de alerta nos controles de uma empresa – completavam o cenário da crise.

TW – Diante deste cenário, quais foram as ações realizadas?

WFJ – Como presidente da Eletrobras, assumi um compromisso fundamental com a mudança. Era preciso reestruturar a companhia. E assim o fizemos.

Com todo o suporte do governo federal e do Ministério de Minas e Energia e com toda a experiência técnica do nosso corpo de profissionais, elegemos a “excelência sustentável” como o motivador de um amplo programa de reestruturação da companhia, materializado no Plano Diretor de Negócios e Gestão das Empresas Eletrobras, com estratégias e iniciativas pautadas nos pilares governança e conformidade; disciplina financeira; e excelência operacional.

TW – Qual o balanço que faz da sua gestão até o momento?

WFJ – Hoje, podemos afirmar que a Eletrobras está mais forte. Todas essas ações visam preparar a companhia para o futuro, tornando-a capaz de competir em condições de igualdade com os grandes grupos do setor elétrico mundial. Acreditamos que eficiência e transparência são valores fundamentais para elevar nossa credibilidade junto a investidores, parceiros, acionistas, colaboradores e sociedade brasileira.

O novo capítulo que estamos escrevendo na história da Eletrobras objetiva torná-la sinônimo de inovação, eficiência e solidez, para que assim continue a trilhar o caminho da excelência sustentável. Somos uma empresa global, comprometida com o futuro do planeta e com o crescimento sustentável do país. Comprometidos, especialmente, com o desenvolvimento do Brasil de hoje e de nossas próximas gerações.

TW – O senhor mencionou a transparência como fundamental. O que a Eletrobras tem feito neste sentido?

WFJ – Com o inestimável alicerce da Lei das Estatais (13.303), promovemos importantes mudanças em nossa governança. Por meio da Diretoria de Conformidade da Eletrobras, criada com o objetivo de reforçar nossos controles internos, nossos canais de denúncia e nossa cultura da ética, lançamos o Programa de Integridade Eletrobras 5 Dimensões, a fim de fortalecer o ambiente de controles, cumprir as normas legais e regulamentares, bem como evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade.

Dentre diversas iniciativas, o 5 Dimensões atualizou, ainda em dezembro de 2016, o Código de Ética e de Conduta das Empresas Eletrobras e implementou um Canal de Denúncias externo. Além disso, temos um verdadeiro dream team no nosso Conselho de Administração, composto por renomados profissionais de mercado, que passaram a fazer parte da companhia, o que reforça o compromisso do acionista majoritário com a mudança da empresa.

TW – Como o mercado percebe estas ações?

WFJ – O mercado já reconhece nossos esforços. Fomos certificados no Programa Destaque em Governança de Estatais da B3, atendendo a seis medidas obrigatórias, e voltamos ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), também da B3.

Obtivemos nota máxima no indicador de governança IG-Sest, do qual fazemos parte, com nível de excelência, desde sua primeira edição, em 2017. Talvez o maior desafio que enfrentamos, ainda em 2016, tenha sido relativo ao pilar “governança e conformidade”, quando protocolamos com sucesso, junto à Securities and Exchange Comission – agência americana que regulamenta o mercado de ações –, os formulários financeiros (20-F) de 2014 e de 2015, sob pena de termos nossas ações deslistadas da Bolsa de Valores de Nova Iorque.

Hoje, podemos dizer que nossa grande conquista foi recuperar a confiança do mercado e da sociedade na Eletrobras. Agora, o futuro nos espera, e é para ele que estamos preparando a companhia.

Perfil

À frente da Eletrobras desde 2016, o corintiano Wilson Ferreira Junior usa a paixão pelo futebol para explicar o que considera o maior desafio de sua carreira: “Eu costumo falar que presidir a Eletrobras é como ser convocado para a seleção brasileira. Como eu sou do tempo em que jogar pela seleção era a maior honra na carreira de um jogador, aceitei imediatamente o convite”.

As referências ao esporte preferido do brasileiro também se aplicam aos conceitos de gestão seguidos pelo executivo. “Com minha experiência acumulada, aprendi que, para ser bem-sucedido na gestão, é preciso dedicação, disciplina e seriedade. E é preciso saber tirar o melhor das pessoas. Você consegue resultado com gente. O segredo é integrar as pessoas, conseguir o comprometimento delas. Você precisa ser capaz de dar às pessoas um senso de propósito, para que elas se sintam parte de um time, efetivamente”, afirma.

Wilson formou-se em engenharia elétrica na Universidade Mackenzie, em 1981, e, quase que paralelamente, cursou administração de empresas na Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP). A escolha por trabalhar no setor elétrico foi algo natural.

“O setor elétrico brasileiro, por sua pujança e pelo que representa para o desenvolvimento do país, está, naturalmente, nos sonhos de qualquer jovem que faz uma escolha profissional como essa. Mas, desde cedo, também fui traçando uma trajetória que naturalmente se voltou para a gestão dentro do setor”, conta. Também na USP, cursou o mestrado em planejamento energético.

Especializações – como em Engenharia de Segurança do Trabalho (Universidade Mackenzie), em Marketing (Fundação Getúlio Vargas) e em Administração de Distribuição de Energia Elétrica (Swedish Power Co.) – complementam sua formação. Profissionalmente, começou sua carreira na Companhia Energética de São Paulo (Cesp), onde passou por diversas posições, desde estagiário até se tornar diretor de Distribuição, entre 1995 e 1998.

Após essa experiência, foi convidado a ser presidente da Rio Grande Energia (RGE), entre 1998 e 2000, e presidente da CPFL Paulista, entre 2000 e 2002. “Após 2002, assumi a presidência da CPFL Energia, o que me deu a oportunidade de construir a maior empresa privada de distribuição de energia do Brasil e uma das maiores no segmento de geração e transmissão”, acrescenta.

Paralelamente, foi presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), entre 2009 e 2010, e da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), de 2014 a 2016.

“A liderança precisa ser aprimorada a cada dia. Envolve capacidade de dialogar, coragem para decidir e assumir não só o bônus, mas o ônus das decisões. Um bom líder é alguém que apresenta desafios para as pessoas, que compartilha causas com as pessoas. E facilita o engajamento. Ele consegue colocar mais claramente as suas causas e os desafios. E é por causas e desafios que as pessoas se mobilizam”, conclui.

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