Primeira edição do CNC Global Voices debateu os desafios e as oportunidades que moldarão o futuro da economia
Promovido para cerca de 500 convidados, o debate recebeu lideranças como Tony Blair, Michel Temer e Arthur Lira
O CNC Global Voices, evento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aconteceu no dia 25 de novembro, em São Paulo, onde reuniu-se lideranças empresariais nacionais do varejo, serviços e turismo para discutir os desafios e as oportunidades que moldarão o futuro da economia. Nomes como o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair, o ex-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, estiveram presentes. Na abertura do evento, o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, ressaltou que o CNC Global Voices se propõe a ser uma plataforma fundamental para conectar o Brasil aos principais temas políticos e econômicos globais. “Vivemos um momento em que a inovação e a colaboração são mais importantes do que nunca. Nosso compromisso é estar sempre à frente dos desafios que o setor enfrenta, buscando soluções inovadoras e estratégicas para impulsionar o comércio de bens, serviços e turismo, pilares fundamentais da nossa economia”, afirmou.
Tony Blair fala sobre a segurança jurídica para o ambiente de negócios
Tony Blair reforçou a dificuldade na implementação de mudanças nos governos, sobretudo em tentativas de reformas, como as buscadas por ele no Reino Unido para saúde e educação, em que enfrentou fortes resistências. “As reformas, a princípio, todos são a favor, mas quando se fala de reformas específicas é diferente”, disse, lembrando que na reforma da educação houve problemas com sindicatos, assim como na saúde, com médicos e enfermeiros. “A mudança é um processo difícil, que requer muitas habilidades”, disse.
Sobre empreendedorismo, Blair ressaltou que, cada vez mais, em todos os países, as pessoas querem abrir o seu próprio negócio. Para ele, o crescimento do empreendedorismo está aliado a uma previsibilidade dos negócios, com facilidade de abertura e ambiente estável. “As pessoas precisam ver o governo como aliado.” Em relação a seu governo, Blair destacou que buscou atuar como uma terceira via, fugindo do binário “Estado e Mercado”. Ele lembrou que, em momentos como o da pandemia da Covid, o Estado precisou entrar em ação, mas que, na maior parte das situações, é o setor corporativo que é o motor do crescimento. “Portanto, é importante deixar de lado a ideologia, e pensar no que funciona”, sugeriu Blair. “Se olharmos ao redor do mundo, não é difícil sabermos as experiências que funcionam. O difícil, muitas vezes, é fazer, o que funciona”, acrescentou. “A maior parte das pessoas não está interessada no debate sobre esquerda ou direita, mas sim se o governo está fazendo o que é preciso”, concluiu.
Lira abordou sobre a estabilidade política de uma nova economia
Arthur Lira, destacou a importância do consenso a ser criado pelas instituições políticas, para que isso não se transforme em perturbações econômicas, “sempre nocivas aos investimentos e à boa gestão dos recursos”. Segundo ele, a agenda do empresariado deve estar baseada na estabilidade social, segurança jurídica e previsibilidade. Lira destacou ainda que, atualmente, ao contrário do momento em que assumiu o comando da Câmara – quando só se falava sobre a pandemia -, há uma busca por uma agenda de desenvolvimento. “Passamos a conversar sobre a remoção de entraves históricos, para o nosso desenvolvimento, por meio da reforma tributária, e por novos marcos legais, setoriais, que estimulem o empreendedorismo, a competição e a inovação.”
Lira também ressaltou, especialmente, o avanço da reforma tributária, após três décadas em tramitação. “Para quem só acompanhou à distância, pode parecer trivial, mas quem participou das negociações políticas sabe que foi uma façanha”, disse, em relação à aprovação. “Trata-se, sobretudo, de uma vitória política, por meio do diálogo político”, afirmou, acrescentando que o novo sistema será implementado aos poucos e suas consequências (positivas) percebidas ao longo do tempo. Ainda destacou a busca pela construção de uma nova economia, menos dependente das emissões de carbono, mais harmônica, aliando sustentabilidade e transição energética. “Esses são temas que estamos avançando graças a busca de consenso por parte das lideranças políticas e empresariais brasileiras. A sintonia entre Congresso e sociedade vai poder viabilizar uma nova economia verde”, completou.
Temer abordou a importância das reformas e projetos de governo para o fortalecimento do Brasil
Fechando a primeira parte do debate, o ex-presidente do Brasil Michel Temer disse estar otimista com a economia. “O Brasil é maior que qualquer crise, nós sempre vencemos os maiores obstáculos”, afirmou. “Temos que incentivar o empreendedorismo para que o assistencialismo deixe de ser necessário. Isso só será possível com as reformas que conseguimos fazer nos últimos anos”, disse.
“O que traz estabilidade (ao país) e deixa as pessoas tranquilas é saber que há um projeto. Pois bem (ao assumir), tínhamos um projeto que previa reformas, recuperação do PIB e queda da inflação”, disse, relembrando quando implementou o “Ponte para o Futuro”. Segundo ele, tudo isso avançou conjuntamente com o Congresso. “Quem governa o país, fundamentalmente, é a conjugação do trabalho entre executivo e legislativo… Eu trouxe o Congresso para governar comigo”, acrescentou, pontuando que, por “força do dispositivo constitucional” o Legislativo foi ganhando “expressão” e “prestígio”. “Não um prestígio político, contrário à constituição, mas o derivado do texto constitucional.” Nesse sentido, Temer defendeu uma maior “responsabilidade” do Legislativo, já que atualmente “manobra boa parte do orçamento”. “O Congresso vem assumindo certas atribuições, que, num dado momento, será útil transformar o Legislativo em uma área de execução governamental.”
A segunda parte do CNC Global Voices foi composta por dois painéis conduzidos pelos media partners da CNC no evento com líderes de grandes instituições financeiras, analisando o atual cenário econômico. Mediado por Márcio Gomes, âncora da CNN Brasil, o segundo painel do dia contou com as contribuições de José Berenguer (CEO do Banco XP), Eduardo Alcalay (CEO do Bank of America Brasil) e Bruno Funchal (CEO do Bradesco Asset Management).
O terceiro painel do CNC Global Voices foi uma edição especial da série de debates Caminhos do Brasil, um projeto editorial dos jornais O Globo, Valor Econômico e rádio CBN. Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, e Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG, foram os convidados do painel que contou com a mediação de Malu Gaspar, colunista de O Globo, e Sergio Lamucci, editor executivo do Valor Econômico.
O evento da CNC foi encerrado com uma palestra sobre liderança, conduzida por Bernardinho, considerado um dos maiores nomes do esporte mundial.