Lula: A emblemática história do candidato eleito para comandar o país a partir de janeiro de 2023
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 77 anos, eleito no dia 30 de outubro, em segundo turno, para o terceiro mandato como presidente da República, tem uma longa trajetória na política brasileira, que começou ainda no início da década de 1970. Na época, o país vivia ainda sob ditadura militar e Lula era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, um dos principais centros industriais do país.
Em 1975, Lula é eleito presidente do sindicato, que representava 100 mil trabalhadores. Três anos depois, em 1978, após ser reeleito presidente da entidade, Lula lidera as primeiras greves operárias em mais de uma década. Naquele momento, o país vivia um processo de abertura política lenta e gradual. Em março de 1979, mais de 170 mil metalúrgicos pararam as fábricas no ABC Paulista. No ano seguinte, cerca de 200 mil metalúrgicos cruzaram os braços. A repressão policial ao movimento grevista, que chegou a levar Lula à prisão, fez emergir a liderança popular de Lula, que criaria o Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980. Alguns anos depois, ele fundaria também a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Em 1984, Lula foi uma das principais lideranças da campanha das Diretas Já para a Presidência da República. Em 1986, foi eleito o deputado federal mais votado do país, para a Assembleia Constituinte, que elaborou a Constituição Federal de 1988. Liderança nacional consolidada, Lula foi lançado pelo PT para disputar a Presidência da República em 1989, após 29 anos sem eleição direta para o cargo. Perdeu a disputa, no segundo turno, para Fernando Collor de Mello, por pequena diferença de votos. Dois anos depois, no entanto, Lula liderou uma mobilização nacional contra a corrupção que culminou no impeachment de Collor. Em 1994 e 1998, Lula voltou a ser candidato a presidente, sendo derrotado por Fernando Henrique Cardoso nas duas ocasiões.
Em 2002, por meio de uma inédita aliança política até então, o PT aprovou uma coligação política que incluía PL, PCdoB, PCB e PMN, lançando Lula novamente a presidente, tendo como vice-presidente na chapa o senador José Alencar (PL), de Minas Gerais, um dos maiores empresários do país. Em 27 de outubro de 2002, em segundo turno, aos 57 anos de idade, Lula obtém quase 53 milhões de votos e se elege pela primeira vez presidente da República. Seu mandato foi marcado pela ampliação de programas sociais e expansão nas áreas de educação e saúde, além de uma política de valorização do salário mínimo. Uma das principais marcas do seu governo foi a redução da miséria no país. Em 2006, Lula e José Alencar são reeleitos e terminam o mandato, em 2010, com a maior aprovação de um governo da história do país, superior a 80%. Essa popularidade impulsionou a eleição de Dilma Rousseff (PT), que era a principal ministra de Lula, e foi eleita a primeira mulher presidente da história do país.
Lava Jato e prisão
Em 2014, após a deflagração da Operação Lava Jato, que apurava corrupção na Petrobras, a crise política escalou para um patamar inédito na democracia brasileira. Reeleita no mesmo ano, a presidente Dilma e seu governo acabaram consumidos pelo desgaste das denúncias, perdeu apoio no Congresso e acabou sofrendo um impeachment, em 2016. O afastamento de Dilma é controverso, já que não teria ficado demonstrada a prática de crime de responsabilidade, como exige a Constituição Federal.
Lula passou a ser alvo de processos por suposta corrupção e foi condenado pelo então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde tramitavam os processos da operação. Após ser condenado no processo do triplex do Guarujá, o ex-presidente foi preso no dia 7 de abril de 2018, dois dias depois da expedição da ordem de prisão contra ele. A sentença do magistrado havia sido confirmada, e a pena fora aumentada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre. Na época, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia alterado o entendimento de que condenados em segunda instância poderiam iniciar o cumprimento da pena.
Lula ficou 580 dias preso e foi proibido pela Justiça de disputar as eleições presidenciais de 2018, vencidas por Jair Bolsonaro. O ex-presidente foi solto em novembro de 2019, após o STF rever a tese de cumprimento a partir de condenação em segunda instância, passando a considerar a possibilidade apenas com o trânsito em julgado do processo. Em 2021, julgamentos do STF consideraram que o então juiz Sergio Moro foi parcial no julgamento de Lula, e foi declarada a suspeição do magistrado, no caso do triplex, que foi anulado. Além disso, os casos do sítio de Atibaia e de duas ações penais envolvendo o Instituto Lula também foram anuladas porque deveriam ter sido julgadas pela Justiça Federal em Brasília e não em Curitiba, onde Moro atuava como juiz. Na Justiça Federal do Distrito Federal, os casos foram considerados prescritos, que é quando o estado perde o prazo para buscar uma condenação.
Terceiro mandato
Sem pendências com a Justiça, Lula voltou com força à cena política na corrida pelo terceiro mandato de presidente. Durante a campanha, ele buscou ressaltar o legado das suas gestões anteriores e prometeu retomar algumas de suas políticas consideradas bem- -sucedidas, como aumento real do salário mínimo. Lula também afirmou que vai garantir o pagamento do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) no valor de R$ 600 por família, com pagamento extra de R$ 150 por criança até 6 anos de idade. Ele também promete ampliar o programa Minha Casa Minha Vida, de habitação popular, que foi substituído pelo programa Casa Verde Amarela no atual governo. Outras propostas incluem a recriação do Ministério da Cultura e a criação do Ministério dos Povos Originários, para cuidar das questões indígenas e das populações tradicionais.
Resultado eleitoral
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o atual presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL), que pleiteava a reeleição no segundo turno das Eleições Gerais de 2022. Às 19h56 do dia 30 de outubro, com 98,91% das urnas apuradas, Lula foi considerado eleito após receber 59.563.912 votos (50,83% dos votos válidos), contra 57.675.427 votos (49,17% dos votos válidos) de Bolsonaro. O número de votos válidos, até
aquele horário, foi de 117.305.567. Foram registrados 1.751.415 votos brancos (1,43%) e 3.889.466 votos nulos (3,16%). A abstenção chegou a 20,90%. Quando 100% das urnas foram apuradas, Lula alcançou 60.345.999 (50,9%) dos votos contra 58.206.354 de Jair Bolsonaro (49,1%).
Perfil
Luiz Inácio Lula da Silva, 77 anos, é natural de Garanhuns (PE) e concorreu pela coligação Brasil da Esperança (formada por PT, PV, PCdoB, PSOL, REDE, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros). Presidente da República entre 2003 e 2010, ele é casado com Rosângela Silva, Janja, e tem como vice-presidente o médico e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB).
Raio X
01 – Pela primeira vez desde que a reeleição foi instituída, um presidente da República no cargo não é reeleito.
02 – Com 77 anos, Lula (PT) se torna o candidato mais velho a assumir a Presidência da República e o único a se eleger três vezes para o cargo.
03 – Esta é a primeira eleição em que Jair Bolsonaro (PL) não sai vitorioso. Ele concorreu a vereador, sete vezes a deputado federal e duas a presidente da República, sendo essa sua primeira derrota.
04 – A distância entre Lula e Bolsonaro foi de 2,1 milhões de votos (1,8%), a menor já registrada em eleições presidenciais. O recorde anterior ocorreu em 2014, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), quando a diferença foi de 3,5 milhões de votos, 3,28% do total.
05 – O resultado reforça a tradição de que Minas Gerais reflete o cenário nacional. Nunca um candidato à Presidência conseguiu ganhar no país sem conquistar o estado mineiro. Apesar da pequena distância, 0,40%, a tendência se manteve.
06 – A abstenção no segundo turno (20,59%) foi menor do que a registrada no primeiro turno (20,95%). Os dados mostram queda de 0,37 ponto no percentual de eleitores que não foram às urnas. O movimento é atípico, já que, historicamente, a abstenção costuma crescer de um turno para o outro.
07 – Lula ganhou em 13 estados, com destaque no Piauí, com quase 77% dos votos, na Bahia (72%) e no Maranhão (71%). Jair Bolsonaro ganhou em 13 unidades da Federação, com destaque para Roraima (76%), Acre (70%) e Rondônia (70%).
08 – Na Região Norte, ao contrário do 1º turno, Bolsonaro venceu Lula com 51,03% dos votos válidos. O Amapá foi o único estado do país em que houve virada.
09 – O PSDB perdeu São Paulo, maior colégio eleitoral do país, mas elegeu três governadores. Ao se reeleger para o Rio Grande do Sul, Eduardo Leite assume a posição de principal liderança do partido.
10 – Estas eleições apresentaram o maior índice de reeleição de governadores da história. Dos 20 que tentaram se reeleger, 18 tiveram sucesso. Os partidos que mais elegeram foram o PT e o União Brasil, com quatro governadores cada.
11 – No segundo turno, o bolsonarismo conseguiu eleger dois governadores: Jorginho Mello (PL), em Santa Catarina, com 70,6% dos votos, maior percentual registrado; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, com 55,3% dos votos.
12 – O Republicanos governará para o maior número de eleitores: mais de 35,7 milhões. A marca é puxada por São Paulo, que reúne 34,6 milhões. O partido também governará Tocantins. Já o Solidariedade é o partido que governará para menos eleitores: 550.687.
O novo governo e o Congresso
Um dos maiores desafios do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está no Congresso Nacional. Para aprovar projetos e fazer a máquina andar ele vai precisar costurar alianças políticas que vão além do apoio já existente em sua base. As maiores bancadas eleitas não são governistas, o que impõe um enorme desafio para Lula e seu governo. E a formação de uma nova coalizão vai depender de acordos e alianças. Na Câmara dos Deputados, os partidos da coligação de Lula são (PT, PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede, Solidariedade, Avante, Agir e PROS). Estes elegeram 122 deputados federais. No segundo turno, a aliança em torno do candidato ainda ganhou apoios do PDT e do Cidadania. A base inicial do governo, portanto, é de 139 deputados.
No Senado Federal, entre os partidos aliados de Lula apenas PT, PSB, PDT, PROS e Rede terão representantes na Casa. Esse grupo soma 15 senadores. Os números mostram que Lula tem minoria no Congresso, o que inviabilizaria votos necessários para aprovação de leis. O governo vai precisar buscar apoio entre os partidos de centro que são independentes, que estariam na casa dos 177 deputados e 42 senadores.