Mercado de luxo deve apresentar crescimento constante até 2030
Estudo inédito sobre os principais segmentos de consumo de luxo traça um panorama completo sobre os gastos dos brasileiros nesse setor e as tendências para os próximos anos
O mercado brasileiro de luxo movimentou R$74 bilhões em 2022 e deve crescer de 6% a 8% ao ano até 2030, quando poderá atingir R$ 133 bilhões de faturamento, indica um estudo inédito encomendado pela Vogue Brasil e Valor Econômico e conduzido pela Bain & Company Brasil. O estudo revelou insights sobre o comportamento e os hábitos de consumo dos clientes, ao mesmo tempo em que destacou o crescimento e o potencial de diferentes segmentos do mercado de luxo no Brasil. A consultoria estratégica analisou o desempenho do segmento nos últimos cinco anos para entender quem são os consumidores do luxo no país e traçar estimativas sobre a evolução do mercado a partir de insights e tendências relevantes identificados durante o levantamento. O estudo segmenta o mercado de luxo em nove categorias: moda e itens pessoais, imóveis, automóveis, saúde, aeronaves privadas, iates, fine art, hotéis e bebidas finas. Todos eles cresceram nos últimos anos, alguns mais afetados pela pandemia, como automóveis e hotéis, enquanto outras categorias mostram expansão significativa após a crise sanitária. O levantamento observou que os destaques ficam por conta dos segmentos de compra de imóveis e aeronaves privadas, menos impactados.
O público
O olhar da Bain sobre os consumidores de luxo constatou que, embora representassem menos de 1% da população brasileira, esses indivíduos possuíam riquezas líquidas que ultrapassam os R$ 3,5 trilhões. Existia no Brasil 1,2 milhão de pessoas consideradas afluentes (com ao menos 100 mil dólares em ativos líquidos) e 114 mil pessoas HNW com ativos líquidos de pelo menos US$ 1 milhão.
Até 2014, havia cerca de 730 mil pessoas de alto poder aquisitivo no Brasil, fatia que passou em 2022 para 1,3 milhão de pessoas e pode chegar a 1,5 milhão até 2030. Uma das peculiaridades descobertas no estudo é que, apesar da população HNW ser formada por homens (92%), com mais de 50 anos de idade (75%) que vivem no Sudeste (80%), o perfil dos consumidores é muito mais diversificado. Esses consumidores estão principalmente nas regiões Sudeste e Sul, com uma proporção mais equilibrada entre mulheres (52%) e homens (48%), e são integrantes de todas as idades, com destaque para a faixa entre 25 e 34 anos (31%).
A recente expansão desse mercado está diretamente ligada ao aumento da população de alto poder aquisitivo. Em 2022, mostra o estudo, o Brasil tinha 114 mil pessoas com pelo menos US$ 1 milhão em ativos líquidos, quase o dobro das 64 mil de 2018. A parcela afluente, de indivíduos com mais de US$ 100 mil em ativos líquidos, também quase dobrou, de 670 mil para 1,2 milhão. É uma fatia da população que em 2022 acumulava riqueza equivalente a um terço do PIB brasileiro, US$ 717 bilhões ou R$ 3,5 trilhões. Em 2018, eles tinham o equivalente a US$ 360 bilhões. O estudo estima que a população de alto patrimônio líquido vai chegar a 133 mil em 2030, e a de afluentes a 1,36 milhão, com riqueza acumulada de US$ 1,07 trilhão.
Quem está gastando? E com o quê?
Os gastos com luxo são equilibrados entre os sexos. O estudo identificou que o público feminino é responsável por 52% dos acessos aos sites de moda e itens pessoais. O dado justifica, portanto, o foco das marcas instaladas no Brasil em investir num portfólio de produtos e em novas estratégias voltadas para as mulheres. Jovens gastam mais. Constatou-se que, embora 75% da altíssima renda brasileira esteja nas mãos daqueles com mais de 50 anos, a fatia de até 35 anos representa 49% dos gastos. Natural, portanto, que engajar “millennials” e geração Z seja visto como fator imperativo para o setor. Moda e itens pessoais formam o segmento de maior faturamento, R$ 18 bilhões no ano passado. A metodologia considerou apenas a fatia mais exclusiva de marcas com valor percebido e posicionamento de preço dois dígitos acima do varejo de massa. Relógios e joias brilharam no topo, correspondendo a 27% da fatia de moda e bens pessoais, um percentual próximo ao de calçados e acessórios, com 26%, e ao de vestuário, com 25% das compras.
Os valores se explicam em parte pelo fato de o cliente de alta renda ter passado a gostar de consumir no próprio país e não ter voltado aos níveis de gastos pré-pandêmicos no exterior. Não há um recorte específico para a alta renda, mas os brasileiros de maneira geral despenderam US$ 18 bilhões fora do país em 2019. No ano passado, tais gastos somaram US$ 12 bilhões, mesmo com as fronteiras abertas. Foram no total 15 milhões de viagens em 2022, contra 24 milhões no último ano antes da pandemia. De acordo com as fontes do mercado nacional consultadas pela Bain, o nível de consumo brasileiro no exterior só deve voltar ao patamar de quatro anos atrás entre 2025 e 2026.
No estudo do mercado de luxo, a Bain considerou novos imóveis com preço superior a R$ 3 milhões em seu levantamento. Essa parcela do segmento totalizou 1% das unidades vendidas em 2022, mas 10% do faturamento de todo o setor imobiliário. Das 3,3 mil unidades vendidas naquele ano, o preço médio da chave atingiu a marca de R$ 5 milhões.
Gastou-se bem mais, em média R$ 75 milhões, nos 107 novos helicópteros, jatos e turboélices registrados na Agência Nacional de Aviação Civil. O segmento de aeronaves privadas, quinto lugar na lista de gastos de luxo, movimentou R$ 4 bilhões e está em franca expansão de 22% ao ano desde 2018. É um dado que deve ter mudanças sensíveis ainda, considerando transações que têm ocorrido, como o fato de a fabricante francesa Dassault ter vendido neste ano os dois primeiros modelos de seu Falcon 10X para o Brasil, a US$ 75 milhões a unidade, ou R$ 370 milhões.
O estudo indica também que a receita com a venda de automóveis de luxo, terceiro segmento em tamanho neste mercado, com parcela de R$ 15 bilhões, superou o gasto total com saúde, quarto colocado na receita do luxo, com R$ 13 bilhões despendidos em hospitais e laboratórios que só aceitam convênios das linhas premium.
As cinco demandas do consumidor de luxo no Brasil
Entre as principais demandas do público consumidor de produtos de luxo, o estudo aponta cinco características principais:
- Hiper personalização: busca por propostas de valor personalizadas para atender às preferências fragmentadas dos consumidores e de micro nichos, incluindo recompensas personalizadas por lealdade e reconhecimento do compartilhamento de dados;
- Sortimento adequado: produtos com os quais os clientes se importam (origem, exclusividade, inovação etc.), cujo objetivo é impactar positivamente comunidade e meio ambiente, com um senso de propósito com valores compartilhados com os grupos de consumidores;
- Acesso onipresente: possibilidade de conduzir a experiência de compra em qualquer lugar, do modo que for mais conveniente, sem atrito, de formas confiáveis e seguras on-line, off-line e omnicanal;
- Conveniente e rápido: serviços sob demanda com vários pontos de contato e opções de atendimento. Cuidado com transparência, rastreabilidade e disponibilidade de informações oportunas e acessíveis sobre as especificações e diferenciais dos produtos para realizar as melhores escolhas;
- Humanização: interações compassivas e calorosas para equilibrar a automação, utilizando a gamificação para gerar maneiras interativas de entreter, educar, inspirar e envolver.