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Mary Elbe: advogada tributarista e criadora do Treinamento da Felicidade

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Natural de Ipubi, uma pequena cidade pernambucana, Mary Elbe é formada em Direito e foi laureada em sua turma. Possui mestrado em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com foco na profissão, construiu um caminho de sucesso na área tributária e acumulou formações, com especializações em Direito Tributário pela Universidade de Salamanca (Espanha) e pela Universidade Austral (Argentina), bem assim doutorado em Direito Tributário pela PUC-SP e pós-doutoramento em Direito Tributário pela Universidade de Lisboa (Portugal). Hoje é uma das poucas mulheres com o título de pós-doutorado no Brasil. Foi auditora fiscal da Receita Federal e fundou seu próprio escritório de advocacia no ano de 2007, Queiroz Advogados Associados, com sede em Recife e filial em São Paulo. Atuou como consultora da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Sebrae Nacional, onde contribuiu para a criação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. É ex-membro da Comissão de Juristas do Senado para elaborar propostas de desburocratização e, também, é ex-membro do Conselho Superior de Assuntos Jurídicos e Legislativos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Foi consultora do grupo de Reforma Tributária da Confederação Nacional do Comércio (CNC). E é membro imortal da Academia Nacional de Economia e Estudos Sociais – ANE. Ainda, é presidente do Instituto Pernambucano de Estudos Tributários – IPET e do Conselho de Notáveis do Instituto de Juristas Brasileiro – IJB. Conquistou muitas posições de destaque em sua carreira, até que percebeu que a felicidade que sentia com suas realizações precisava ser compartilhada, principalmente com outras mulheres. Entendeu que muitas pessoas, mesmo as mais renomadas e com condições financeiras favoráveis, não estavam felizes e se sentiu motivada a entender o porquê. Nesse contexto, iniciou outros estudos, como Neurociência e Comportamento, área pela qual é pós-graduada pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atualmente, cursa pós-graduação em Psicologia Positiva na mesma universidade, tendo estudado, entre outros, com Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi. Fez cursos com pessoas de destaque no tema e tornou-se a criadora do Treinamento da Felicidade, com base no método FEDDA (Foco, Esforço, Determinação, Disciplina e Ação) hoje um sucesso que lhe rende palestras e um novo livro: Prática da Felicidade – Domine a arte de ser feliz. Nessa entrevista exclusiva, ela conta a trajetória e como a felicidade transformou sua vida em um propósito. Confira!

The Winners – Com sua formação em Direito e uma especialização reconhecida na área, como uma das poucas mulheres com o título de pós-doutorado em Direito Tributário no Brasil, a senhora tornou-se referência em Direito Tributário, ministrando palestras em vários países, mas como foi essa trajetória? Quais foram os maiores desafios e as superações?

Mary Elbe Queiroz – Tenho muito orgulho de minha história, construída com muito FEDDA (Foco, Esforço, Determinação, Disciplina e Ação). Sou casada, mãe de duas filhas e tenho uma netinha. Nasci em Ipubi, cidade do sertão pernambucano, depois morei em Petrolina (PE), fiz a faculdade de Direito e o mestrado na Universidade Federal de Pernambuco. Depois, conclui o doutorado na PUC-SP e o pós-doutorado na Universidade de Lisboa (Portugal). Daí em diante, tenho feito palestras, ensinando e aprendendo, e assim ganhei o mundo. Fui auditora fiscal da Receita Federal do Brasil e pedi exoneração depois de 27 anos de trabalho (não tinha idade para me aposentar) para abrir meu próprio escritório de advocacia, hoje com sede em Recife e filial São Paulo. Como mulher e nordestina, tive muitos desafios, inclusive enfrentei preconceitos, sobretudo na área tributária, que era tipicamente masculina, porém nada que me deixasse abater. Sou uma pessoa alegre, otimista, resiliente, esperançosa, mas com os “pés firmes no chão”, olhando para a vida como um mundo de desafios e possibilidades a serem exploradas, sempre avançando com muita leveza, força e coragem. Para chegar até aqui foi preciso muito FEDDA, com estudo, trabalho, livros publicados, sempre contando com o apoio da família e alguns mestres. Nunca desanimei nem enxerguei barreiras intransponíveis, pois a certeza de que alcançaria o que desejava me ajudou a realizar meus sonhos e propósitos. Hoje posso dizer que estou onde muitos nem sonham chegar, pois sou uma advogada, professora, palestrante e jurista de sucesso que conseguiu o respeito de seus pares, amigos e clientes. Estou realizada, mas não acomodada, porque outros propósitos me alimentam, estou sempre feliz.

TW – A senhora participa de várias entidades importantes no Brasil, como vê a posição do país no mundo? Que caminhos entende como prioritários?

MEQ – O Brasil tem um grande potencial a ser explorado e pode se colocar entre os grandes países do mundo. Contudo, ainda precisamos resolver questões sociais e a diversidade cultural e econômica das diferentes regiões do país, haja vista a nossa grande extensão territorial. Somos um país com vários países dentro, ou seja, sua gestão requer olhares diversos. Para que o Brasil possa atingir outros patamares necessita de várias reformas, como a administrativa, de organização e gestão do Estado, assim poderá ser mais eficiente e prestar serviços de melhor qualidade para a população. O Custo Brasil é muito alto, gasta-se muito e mal. Então, sem uma reestruturação de custos e da máquina estatal, vamos demorar para obter essa eficiência tão necessária para que o povo seja mais bem assistido, o Estado funcione e o país possa crescer de forma sustentável. Outra reforma, mais que urgente, é a tributária, especialmente para que os negócios e a vida das pessoas sejam simplificados, subtraindo o peso dos tributos sobre o consumo. Ademais, temos uma perversa burocracia, vários tributos incidindo sobre as mesmas bases, complexidade da legislação, alta litigiosidade e insegurança jurídica, questões que interferem em emprego, economia e atração de investimentos. Tudo isso precisa ser revisto para termos mais transparência, simplificação, eficiência e justiça fiscal.

Mary Elbe, Wandemberg, as filhas – Carol e Marina, a netinha Bianca

TW – A questão da alta carga de tributos, complexidade e litigiosidade tributária brasileira é sempre um ponto de muita discussão e divergências entres os especialistas. Com sua experiência, e traçando um paralelo com outros países, como a senhora vê as propostas de reforma tributária em discussão no Brasil?

MEQ – Gosto sempre de repetir: quando se fala em reforma tributária, a primeira questão a ser colocada é de qual reforma está se falando? Do lado do Estado, o desejo é arrecadar mais, além de os entes federativos não chegarem a um consenso entre eles; do lado dos contribuintes, é pagar menos tributos. Trata-se de vontades divergentes, por isso não se aprova nenhuma grande reforma. Atualmente, temos várias propostas de reforma tributária tramitando no Congresso Nacional. Contudo, apesar de haver um discurso de que elas pretendem simplificar, não aumentar a carga tributária, ser transparente para atrair investimentos e gerar empregos, na prática, quando examinamos mais detidamente os textos, não é isso que se verifica. Pretende-se trazer o modelo europeu do IVA, porém não se pode transportar um modelo estrangeiro sem olhar a realidade brasileira, que é muito diferente. Como exemplo, as propostas têm a intenção de unificar cinco tributos sobre o consumo: PIS, COFINS, IPI, ICMS e PIS, o que é muito bom. Entretanto, paralelamente, serão criados dois outros impostos para substituí-los: o IBS e o IBS seletivo, assim, a intenção, portanto, é extinguir cinco e criar somente dois. Na verdade, durante 10 anos, no período de transição, haverá cinco tributos atuais coexistindo com os dois novos, ou seja, vamos conviver com sete tributos nesse prazo. Imagine a complexidade da legislação do sistema atual somada a de mais dois tributos. Além disso, a reforma somente estará totalmente implantada após 50 anos, com a mudança da tributação da origem para o destino. Ora, parece-me que muitos que estão vivos hoje não verão o resultado dessas propostas. Outra observação: dizem que a alíquota do novo tributo será unificada, totalizando 25%, entretanto, os estados e municípios poderão ter alíquotas diferenciadas, então não é bem uma unificação, pois não existirá uma alíquota única. Essa alíquota de 25% para todos resultará em um brutal aumento de tributo. Não se paga carga tributária, essa é uma proporção da arrecadação em relação ao PIB, o que se paga e vai aumentar muito para alguns setores é o peso dos tributos a recolher. Tomemos o seguinte exemplo: prestadores de serviço, hospitais, escolas, transporte, atividades essenciais, que hoje estão no lucro presumido, recolhem 3,65% de PIS e COFINS e de 2% a 5% de ISS, ou seja total de até 8,5%. Com as propostas de reforma, passarão de imediato a pagar 25% do IBS, o que representará um aumento de tributo de 300% a 600%. O mais grave é que as empresas prestadoras de serviço são as que mais empregam e utilizam muita mão de obra. Todavia, no novo sistema, não haverá o direito de crédito para o adquirente do serviço, portanto, a consequência é que o peso do aumento dos tributos será muito maior para os prestadores de serviço. Realmente, é inegável que o Brasil precisa de uma reforma tributária que simplifique, que traga mais segurança jurídica e desonere a produção e o consumo. Contudo, ainda não é momento de se fazer uma reforma tão radical. Seria importante iniciar com a simplificação e a unificação da legislação e de cada tributo, por exemplo: unificar o PIS e a COFINS, no âmbito federal, o ICMS entre os 27 estados e o ISS nos 5.568 municípios. Um bom começo muito simples seria estabelecer o uso de uma nota fiscal unificada para todo o país, só isso já seria um grande avanço.

TW – Como ex-consultora da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Sebrae Nacional, a senhora contribuiu para a elaboração da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. No entanto, muitos especialistas apontam que o Brasil ainda está longe de estabelecer um cenário favorável para o desenvolvimento e fortalecimento das empresas. Qual é a sua opinião sobre o tema?

MEQ – Eu sugeri o nome Lei Geral da Micro e Pequena Empresa na época da tramitação da proposta da Emenda 42/2003 da Constituição, foi muito gratificante participar da criação desse sistema unificado de tributos. Porém, muita coisa foi alterada posteriormente, e hoje o Simples não é tão simples, ficou muito complexo, embora ainda muito menos do que os outros regimes tributários. A Lei da Micro e Pequena Empresa foi um grande avanço na formalização de empresas e empregos, inclusive hoje, segundo o Sebrae, no Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPEs), as quais são responsáveis por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado (16,1 milhões). Entretanto, o regime das MPEs sofre muitas críticas, sob a alegação de que há perda de arrecadação com o sistema. Deve-se considerar, todavia, que se essas empresas não tivessem esse regime, talvez nem estivessem formalizadas. É importante alertar que as propostas de reforma tributária não extinguem expressamente o regime, porém vedam que o adquirente possa tomar crédito dos produtos e serviços adquiridos das MPEs. Na prática, isso significa estabelecer uma concorrência desleal para elas, pois as outras empresas vão preferir comprar produtos de outras empresas que gerem créditos para serem compensados. Conforme o que acentuei aqui, acredito que efetivamente o Brasil ainda está longe de ter um cenário que favoreça o crescimento e o aumento de investimentos nas empresas, e infelizmente esse cenário parece que não irá mudar caso as propostas de reforma tributária sejam aprovadas como estão tramitando.

TW – São de conhecimento público os preconceitos que a mulher enfrenta no mercado de trabalho para conquistar cargos de liderança, em especial em ambientes majoritariamente masculinos como a carreira de Direito Tributário. No entanto, a senhora quebrou essa barreira e ainda fundou e preside o Instituto Pernambucano de Estudos Tributários (IPET – Recife/ PE). Hoje, como mulher e nordestina, como vê o papel da mulher na sociedade contemporânea? O que evoluiu e o que precisa ser melhorado?

MEQ – O papel da mulher como força de trabalho é muito relevante, apesar de que, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro ainda é menor do que a masculina pois esta representou 54,34% em 2019 e 71,64% em 2021. Desde 2012, a taxa de desemprego das mulheres é maior que a dos homens, e a escolaridade e a remuneração das mulheres são inferiores. Quando se trata de cargos de liderança, reduz-se ainda mais a participação feminina. Na área do Direito não é diferente; embora as mulheres sejam a maioria nas faculdades e também na OAB, com 623.960 advogadas inscritas contra 615.910 inscritos, o número de sócias de escritórios é inferior a 20%, de acordo com o Conjur (2016). No Direito Tributário a disparidade é ainda maior, pois esse ramo é considerado mais masculino. Eu, como já disse, mulher e nordestina, sofri preconceitos profissionais, mas nada que me fizesse retroceder, sempre fui em frente. Em 2001 fundei o IPET a fim de criar um espaço de estudo tributário em Pernambuco, não somente para mulheres, mas, para todos, uma vez que, até então, as grandes discussões ficavam concentradas no Sudeste. Também tenho procurado chamar a atenção para questões tributárias que necessitam de alterações. Desde 1988 venho atuando ativamente em pesquisa e em proposições sobre as propostas de reforma tributária, com o objetivo de aprofundar o estudo, esclarecer e ajudar a formar opiniões a respeito desses projetos. O intuito é apontar os pontos frágeis de nosso sistema tributário e as possibilidades de correções. Com relação ao avanço feminino na sociedade, deve-se ressaltar a existência de vários grupos de mulheres, alguns dos quais faço parte, como presidente do Conselho de Notáveis do Instituto de Juristas Brasileiras, membro do Instituto Empoderar e como associada do Grupo Mulheres do Brasil, que, sob a liderança de Luiza Trajano, tem desempenhado um papel muito importante para a mudança de paradigmas e para a conscientização do papel feminino na sociedade e na economia, não somente no Brasil, assim como no mundo. O foco do Grupo Mulheres do Brasil é chamar a atenção para situações desde o combate à violência contra nós, a diversidade, a educação, o empreendedorismo e muitos outros aspectos.

 

TW – Atualmente, a senhora é conhecida por difundir a Ciência da Felicidade, ser especialista no tema e ter criado o Treinamento da Felicidade. Mas como esse processo aconteceu? O que levou a senhora, com sua carreira consolidada na área tributária, a desenvolver, paralelamente, essa nova área de atuação?

MEQ – Minha especialização no campo do desenvolvimento pessoal ocorreu após conviver com muitos grupos de mulheres, foi assim que pude constatar a necessidade de o público feminino conseguir ser protagonista em relação à própria vida, posicionar- -se economicamente e perante a sociedade. Sempre encontramos barreiras e fomos limitadas por condições culturais, educação, falta de preparo técnico, poucas opções de trabalho e políticas públicas reduzidas. Por essas razões, as mulheres vivem situações inapropriadas, até mesmo abusivas, muitas vezes aceitas como resultado de baixa autoestima, solidão, falta de confiança no próprio poder e frustação. Por me considerar uma pessoa feliz e capaz, essa situação sempre me incomodou. Então, dediquei-me a pesquisar um modo de contribuir e ajudar essas mulheres. Fiz pós-graduação em Neurociência e Comportamento e Psicologia Positiva e descobri a Ciência da Felicidade, onde identifiquei a importância de desenvolver cinco pilares, os 5 As, imprescindíveis para uma vida melhor: autoconhecimento, autoestima, autoconfiança, autoeficiência e autorrespeito. Esse caminho é fundamental para as mulheres conseguirem ser felizes, terem sucesso e prosperidade em suas vidas e realizarem tudo o que desejarem. Assim, descobri o meu verdadeiro propósito: contribuir para ampliar a felicidade das pessoas, especialmente das mulheres, e ajudar na construção de um mundo melhor para todos. Entretanto, gosto de advogar e, sem falsa modéstia, sou muito boa nessa atuação. Sinto que esse é um outro propósito que me chama e, até agora, consegui transitar pelos dois mundos, aparentemente diferentes, mas no fundo tão iguais, pois, para que qualquer pessoa possa ter saúde mental e sucesso, é necessário ser feliz.

TW – Recentemente, a senhora desenvolveu uma pesquisa em que identificou que mesmo o Brasil sendo considerado o país da “alegria, samba e carnaval”, apenas 29% dos brasileiros se declaram felizes. No ranking global da felicidade, o Brasil ocupa a posição número 41. O que isso quer dizer e qual é o impacto dessas questões para a sociedade?

MEQ – Se antes da covid 19 já existiam muitos transtornos de saúde mental, pessoas insatisfeitas, angustiadas, com sentimento de vazio, solidão, paralisadas, deprimidas e infelizes, após a pandemia essa situação se agravou, não somente no Brasil, mas no mundo. O Brasil, segundo relatório da OMS, é o país mais ansioso do mundo e o mais deprimido da América Latina. Assim, decidi investigar como anda a “felicidade do brasileiro” e realizei uma pesquisa (www.maryelbe.com. br) junto com o Instituto Qualibest. As conclusões foram surpreendentes, pois apenas 29% dos brasileiros se declararam felizes, 19% como infelizes e 52% se identificaram em um nível intermediário de felicidade. O impacto disso tudo para a sociedade é expressivo, pois o resultado são pessoas desmotivadas, ansiosas, angustiadas, paralisadas, aumento do número de casos de depressão e suicídios, com reflexos no trabalho e na produção. Essa situação afeta a saúde social, a previdência e torna o meio mais inóspito para se viver. Esse cenário é tão grave que, no mundo, os governos têm se voltado para o tema, por exemplo, o Reino Unido criou o Ministério da Solidão. Aqui se ressalta a importância que se deve dar à felicidade não somente pessoal, mas também à coletiva, pois as pessoas felizes produzem 30% mais, têm saúde mental e física superior, conseguem enxergar mais oportunidades e encontrar rapidamente soluções para os desafios da vida, ou seja, com chances elevadas de melhorar o meio em que vivem e a economia do país. Além disso, em um ambiente com pessoas mais felizes, obviamente melhor para viver, os relacionamentos se desenvolvem de forma mais saudável e há harmonia, com menos violência e crimes.

TW – Nesse processo de autoconhecimento e busca pela felicidade, a afirmação: “não são as pessoas de sucesso que são felizes, são as pessoas felizes que têm sucesso, prosperidade e realizam tudo o que desejam” funciona de que forma? Como em um mundo tão imediatista as pessoas podem conciliar sucesso e felicidade?

MEQ – Ser feliz é um desejo universal em todos os tempos. Tudo o que se faz, ao final, tem por objetivo obter felicidade. Porém, nem todos conseguem ter felicidade. A maioria se engana com relação a sucesso, dinheiro e relacionamentos, pensa que tais aspectos é que trazem felicidade. Não é isso que acontece. Ter bens, pessoas na vida, fama e sucesso é bom e importante, no entanto, não são suficientes, apenas provocam alegria e prazer momentâneos. A felicidade é uma forma de ver a vida e um estado de espírito permanente. Já a alegria e o prazer são passageiros, logo se esvaem após o evento que os causou. Quem é feliz pode ter momentos de tristeza, mas rapidamente eles passam. A pessoa feliz é genuinamente alegre, otimista, esperançosa, resiliente, tem bom humor, leveza, coragem, enxerga mais e sempre vê novas possibilidades e soluções para conquistar o que deseja e, ainda, enfrentar adversidades e perdas no curso na vida. O curioso na pesquisa que realizei é que todos sabem quais são as características de uma pessoa feliz, porém apenas as que se declararam felizes realmente as possuem, e as infelizes confessam que não têm. E como conseguir ser feliz de modo duradouro? Ser feliz ou infeliz não é destino, sorte ou milagre, e a felicidade não pode ser perseguida em causas externas, bens ou pessoas, ela é um processo constante e deve ser construída dentro de cada um. A russa Sonja Lyubomirsky, pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia (EUA), aponta que o nível de felicidade das pessoas decorre, mais ou menos, de 50% da genética, 10% de circunstâncias da vida e 40% é consequência das atitudes. Então, existe uma grande possibilidade de qualquer pessoa ser feliz, mesmo que tenha um nível mais baixo de felicidade, basta que altere suas atitudes e trabalhe nesses 40%. Está comprovado cientificamente que o nosso cérebro tem multiplasticidade e que pode criar, regenerar e alterar as suas conexões neurais a qualquer tempo, independentemente da idade, e isso acontece por meio da criação de novos hábitos. Portanto, quando se modificam as atitudes e incorporam-se novos hábitos na vida de alguém, são feitas novas conexões neurais que levarão à positividade e à construção da felicidade. Tudo é processo e com treino pode-se chegar à felicidade duradoura. E é exatamente a felicidade a combustão que faz que a pessoa tenha motivação e coragem para mudar e ser mais feliz. Tais aspectos, associados a muito FEDDA, levam ao sucesso, à prosperidade e à realização de seus desejos.

Mary Elbe em campo de girassóis, Holambra, SP

TW – Ao longo de sua carreira, a senhora publicou vários livros na área de Direito Tributário, mas agora está com o recém-lançado “Prática da felicidade: domine a arte de ser feliz”. Como foi trabalhar nesse projeto e qual é o diferencial dele para a sociedade?

MEQ – Despois de estudos, investigações e muitas experiências em palestras e mentorias, decidi apresentar o resultado de tudo isso para ajudar mais pessoas a encontrar a forma de construir a própria felicidade e criei o Treinamento da Felicidade. Foi assim que nasceu o livro “Prática da felicidade: domine a arte de ser feliz”. Nele, mostro os avanços da Neurociência e da Psicologia Positiva nas pesquisas e na comprovação da possibilidade de qualquer pessoa poder treinar atitudes positivas, ampliar a sua mente e ser mais feliz. Essa foi a grande descoberta: todos podem escolher ser felizes e a ciência hoje dá ferramentas simples, porém desafiadoras, para que sejam alcançados resultados duradouros. No meu trabalho divulgo exemplos, testes e também as atitudes necessárias para ser feita essa mudança de mindset, com o objetivo de facilitar o caminho da construção da felicidade. Em especial, apresento um remédio poderoso, que pode ser fabricado dentro do próprio organismo e ser tomado sempre com a prática das atitudes que liberam DOSEs de Felicidade, com os hormônios Dopamina, Ocitocina, Serotonina e Endorfina, que são o quarteto da felicidade. No livro procurei destacar atitudes práticas e fáceis que podem ser adotadas no dia a dia. Tais ações deverão ser repetidas por um determinado período para que se formem as novas conexões neurais e, por consequência, sejam criados os hábitos positivos que levarão à felicidade. Fazer esse trabalho foi instigante e motivador e me deixou muito feliz, pois saber que posso ajudar outras pessoas a serem felizes é uma grande emoção. Para complementá-lo, estou desenvolvendo o APP FEDDA, com as atitudes, bem práticas, que deverão ser treinadas e repetidas, como estão no livro, para ajudar na construção da felicidade.

TW – Com esse trabalho, como a senhora vê a questão do interesse das pessoas nos temas? Qual é o perfil de pessoas que a procuram e quais são as maiores queixas?

MEQ – Durante muito tempo, a psicologia e a psiquiatria dedicavam-se mais a patologias e traumas. Após os anos 1990, especialmente com Martin Seligman, começaram a ser divulgados os benefícios da Psicologia Positiva, que tem o foco em virtudes, talentos, qualidade, forças individuais e aspectos positivos da pessoa. Antes, havia muita resistência a essas “novidades” e faltavam estudos científicos sérios sobre o tema, hoje a situação está se invertendo. A Neurociência mostra que o nosso cérebro funciona como uma máquina que enxerga por meio dos nossos pensamentos, portanto, seu foco é direcionado para onde você concentra a sua atenção. Se você insistir em voltar a sua atenção para a negatividade, seu cérebro vai vibrar nessa frequência e vai parecer que você somente “atrai” coisas não tão boas. Ao contrário, se você treinar, repetir e habituar-se a encarar situações como positivas, mesmo as não tão boas, se mudar o seu olhar, se sentirá mais motivado, sua energia crescerá e vai parecer que você “atrai” somente o que é bom. De fato, haverá uma “virada de chave”, sua vida começará a mudar e coisas boas passarão a acontecer. Hoje, realmente, com novos estudos, publicações e cursos, muitos passaram a pesquisar mais e a acreditar nesse desenvolvimento cerebral, isto é ciência. Porém, ainda há alguma descrença de que as pessoas com nível mais baixo de felicidade, as resmungonas, as que gostam de se fazer de vítimas ou culpar terceiros por suas dificuldades, possam mudar e passar a serem mais felizes e terem uma vida bem melhor, com mais prosperidade e realizações, a ciência prova o contrário. Com certeza posso afirmar que até mesmo essas podem mudar e serem mais felizes. Qual é o perfil das pessoas que mais me procuram? Mulheres acima de 30 anos, com problemas na família, insatisfação nos relacionamentos amorosos, divórcios, filhos e questões profissionais, pessoas que não sabem como começar uma carreira ou mudar de área de atividade, bem como achar o par romântico ideal (ele existe sim!). Repito, foi a partir daí que me senti provocada a saber o que fazer para ajudar essas mulheres.

TW – Observando sua trajetória e seu foco em criar uma sociedade melhor, como podemos definir seu legado? O que pretende deixar como exemplo para gestores, executivos e as pessoas?

MEQ – Desejo que todos tenham a certeza de que PODEM SER MAIS FELIZES! Essa é uma atitude que só depende de cada um querer e decidir dar o primeiro passo. É um processo interno desafiados mudar a própria vida. Mesmo que no início seja difícil e você precise de muito FEDDA, insista, vale a pena. Pode ter certeza, a maior fonte de felicidade é dar felicidade! Assim, tudo se amplia, pois a felicidade é contagiante. O benefício não é somente pessoal, mas alcança a sua casa, os relacionamentos, o seu local de trabalho, onde você estuda. Trata-se de uma espiral, vai se espalhando por todo o meio onde você vive. E vale sempre lembrar: não são as pessoas de sucesso que são felizes, são as pessoas felizes que têm sucesso, prosperidade e realizam tudo o que desejam!

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