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Jacyr Costa Filho – o legado do setor sucroenergético brasileiro

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Jacyr Costa Filho, 64 anos, é uma das mais respeitadas lideranças empresariais do agronegócio brasileiro, especialmente no setor sucroenergético. Cumpre uma trajetória de sucesso, iniciada quando, ainda jovem, saiu do interior de São Paulo para estudar Engenharia Civil e Administração de Empresas na capital paulista. Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, decidiu expandir ainda mais seus conhecimentos na Suíça, onde se especializou em Marketing pelo International Institute for Management – IMD. Casado e pai de três filhos, acumula 35 anos de experiência na indústria da cana-de-açúcar. Além de desenvolver atividades como a agropecuária no interior de São Paulo, é sócio da consultoria Agroadvice e preside o COSAG – Conselho Superior do Agronegócio da FIESP, e o Sindicato de Fabricação de Álcool do Estado de São Paulo – SIFAESP. Sua carreira profissional é também marcada pelo trabalho realizado em diversas empresas do setor sucroenergético. Por 15 anos, o executivo ocupou importantes cargos no Grupo Tereos, cooperativa agrícola francesa dona de uma receita anual de cerca de € 5 bilhões. É uma das maiores produtoras mundiais de açúcar, amidos e álcool, com presença em 16 países e 4 continentes. Nela, Jacyr Costa Filho foi CEO no Brasil e por oito anos integrou o Comitê Executivo Global. Nesta entrevista e no artigo a seguir, ele aborda questões de grande relevância para o segmento sucroenergético e o desenvolvimento sustentável do agronegócio e do País.

The Winners – Aproveitando sua larga experiência na indústria sucroenergética brasileira, pode resumir o papel deste segmento no desenvolvimento do País, principalmente a sua relevância social e econômica?

Jacyr Costa Filho – Em poucas palavras, basta dizer que a cana-de- -açúcar está inserida na história deste País desde, praticamente, o descobrimento. A indústria do açúcar foi a primeira do Brasil. Há registro da exportação deste produto em larga escala para a Europa já no século XVI. Hoje, somos líderes mundiais no cultivo da cana-de-açúcar, ocupando o primeiro lugar no ranking de produção e exportação açucareira e a segunda posição em etanol. Dispomos de mais de 350 usinas espalhadas pelo Brasil, gerando aproximadamente 2 milhões de empregos diretos e indiretos em cerca de 1.200 municípios, o que movimenta um PIB próximo de US$ 40 bilhões a cada ano.

TW – Como um dos principais produtos da cana, o etanol, revolucionou o segmento de combustível no Brasil?

JCF – Até os anos 1970 o setor baseou-se principalmente na produção de açúcar. Com a crise do petróleo iniciou-se um importante ciclo de substituição da gasolina, na época importada, por etanol. O marco dessa transformação foi o Programa Nacional do Álcool, o Proalcool, que trouxe um novo dinamismo a este importante setor da agricultura brasileira. Nos anos 2000, dois fatores impulsionaram e ajudaram na diversificação de produtos sucroenergéticos. Um deles foi a crise de energia elétrica, em 2001, que abriu espaço para a utilização da bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha da cana. O segundo fator deu-se no desenvolvimento do carro flex-fuel, que possibilitou a ampliação da utilização deste importante biocombustível.  O carro flex possibilitou ao consumidor brasileiro a escolha do combustível na hora do abastecimento do veículo, em vez de fazê-lo no momento da compra do automóvel, como ocorre em outros países.  Em 2020, 95% dos carros e 62% das motos vendidas no País possuem motores flex. Da frota circulante, 80% dos carros e 42% das motos são flex. Outros usos do etanol se dão nas aeronaves agrícolas e também na produção de bioplásticos, como é o caso da fábrica da Braskem, no Rio Grande do Sul.  Na aviação comercial, empresas como a própria Embraer, juntamente com Boeing, Gol e TAM, já realizaram inúmeros voos, nos últimos dez anos, utilizando biocombustíveis, sobretudo o bioquerosene, que pode ser produzido diretamente da cana-de-açúcar.

TW – Em novembro deste ano a ONU realizará uma nova Conferência do Clima. O objetivo será discutir o andamento das estratégias das nações para a redução das emissões de GEEs. Como a cana e seus derivados estão inseridos no plano brasileiro de combate às mudanças climáticas?

JCF – A experiência brasileira na utilização de biocombustíveis com o objetivo de reduzir as emissões tem se mostrado vencedora. Nos últimos 20 anos, a frota de veículos na cidade de SP aumentou em 80%, ou seja, quase dobrou o número de veículos em circulação. E, no entanto, a poluição foi reduzida em dois terços. O nível de poluição de 60 microgramas de particulados por metro cúbico de ar, registrado no ano 2000, caiu para 19 em 2020, abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 20 microgramas. Os biocombustíveis, como o etanol e biodiesel, têm uma importante participação nisso. Tendo como horizonte o ano de 2030, marco para o cumprimento inicial das metas anunciadas pelo Brasil no Acordo de Paris, a cana destaca-se no compromisso nacional. Terá um papel estratégico em termos de segurança energética. Estima-se que, nos próximos nove anos, a produção de etanol alcançará 50 bilhões de litros, o dobro do que o País produzia na época da assinatura do Acordo, em 2015. Além disso, a bioeletricidade obtida do bagaço e da palha da cana, o biogás e o biometano, também estarão consolidados como fontes renováveis de valor indispensável em nossa futura matriz energética. Muitos não sabem, mas a biomassa da cana vem sendo, há mais de uma década a fonte de energia renovável mais utilizada em nossa matriz. Sozinha, ela entrega 19,1% da oferta interna de energia.

Ao lado de Antonio Carlos Costa – dirigente do DeAgro – FIESP em debate sobre o setor

TW – O mercado de créditos de carbono tornou-se um importante instrumento financeiro no incentivo à produção e uso de energias renováveis em diversos segmentos da economia. Neste sentido, o etanol representa uma oportunidade a ser explorada pelo Brasil no segmento de combustíveis automotivos, um dos maiores emissores de GEEs?

JCF – No Brasil dispomos de uma matriz elétrica bastante limpa. Em torno 85% da energia elétrica brasileira vem de fontes renováveis. Grande parte da poluição é causada pelo setor de transporte, com a grande utilização de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel. Nesse sentido, os biocombustíveis representam uma oportunidade, como dito antes, em termos de redução nas metrópoles brasileiras, como a cidade de São Paulo.  O Programa RenovaBio está criando um mercado de carbono importante, que será operado na B3 por meio de Créditos de Dercarbonização, conhecidos como CBios. O programa estabelece metas anuais de descarbonização bastante ambiciosas no sentido de aumentar o uso de combustíveis renováveis, como etanol, biodiesel, biogás e bioquerosene. Anualmente, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) estabelece as metas de descarbonização. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atribui às distribuidoras de combustíveis metas com obrigações de adquirir CBios baseados na venda de combustíveis fósseis do ano anterior. As unidades de produção de etanol comercializam o biocombustível e emitem CBios fundamentados numa nota de eficiência ambiental certificada pela ANP. Em seu primeiro ano de vigência, o RenovaBio gerou 18,7 milhões de CBios, grande parte deles comercializados a preço médio de R$ 43,41.

TW – Por que o etanol brasileiro é considerado o biocombustível mais sustentável do mundo em comparação com outros tipos de combustíveis renováveis produzidos nos Estados Unidos e Europa?

JCF – A Agência Ambiental Ame[1]ricana (EPA, na sigla em inglês) considera que o etanol de cana é capaz de reduzir as emissões em até 90% comparado com a gasolina. Já o etanol de milho provoca uma redução de cerca de 36%. No Estado da Califórnia, o biocombustível brasileiro é muito utilizado por causa de suas vantagens ambientais em comparação ao biocombustível americano, de milho.

TW – Qual a sua posição sobre a venda direta de etanol, eliminando o papel das distribuidoras de combustíveis?

JCF – No Estado de São Paulo, maior mercado do País, a produção de etanol se concentra no interior, enquanto o grande consumo ocorre principalmente nas regiões metropolitanas. Dada a dificuldade de logística para abastecer a região metropolitana, é importante a atuação das distribuidoras para o atendimento dos postos de combustível. Neste caso, não vejo como a venda direta possa trazer ganhos para os produtores e os consumidores do Estado.

TW – Qual o futuro do etanol como combustível automotivo diante da tendência crescente de eletrificação veicular?

JCF – Cada país encontrará a melhor situação para resolver o tema de descarbonização da matriz de transporte. No caso específico brasileiro e de outros países em desenvolvimento, já existe uma extensa infraestrutura de distribuição consolidada para o abastecimento de combustíveis líquidos. O Brasil, de proporções continentais, dispõe de 42 mil postos de abastecimento em todas as regiões. A eletrificação é inevitável e ocorrerá tendo como fonte de energia o combustível líquido, e, no caso, o etanol atende perfeitamente a esta necessidade. Hoje, um carro flex brasileiro movido a etanol emite menos gases de efeito estufa do que um veículo 100% elétrico europeu, dentro do conceito de ciclo de vida do combustível. E o carro híbrido com motor flex e utilizando etanol, já produzido no Brasil, emite muito menos do que um europeu. Outra tecnologia de última geração apontada por especialistas como o combustível do futuro é o hidrogênio. Em carros movidos a célula de combustível, a Fuel Cell, extrai-se hidrogênio diretamente do etanol para acionar um motor elétrico. Volkswagen e Nissan são as montadoras que vêm demonstrando interesse no desenvolvimento deste projeto.

Meio Ambiente em pauta no encontro com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, Paulo Skaf, presidente da FIESP e Eduardo San Martin, presidente no Conselho Superior de Meio Ambiente da FIESP

TW – Veículos pesados podem usar o etanol? Pode dar exemplos de pesquisas ou projetos nesta área, além da viabilidade deste biocombustível no transporte de cargas ou passageiros?

JCF – Na Europa, principalmente na Suécia, o etanol é utilizado com combustível em ônibus e caminhões da Scania há mais de 14 anos. Foi uma experiência tão exitosa que a montadora exporta esta tecnologia para diversos países no bloco europeu, como França, Noruega e Finlândia. Portanto, tecnologia para isso existe e já está consolidada. No Brasil, o que se tem de prático em veículos pesados é a adição de biodiesel ao diesel fóssil.

TW – Qual é o tamanho do mercado mundial para o etanol?

JCF – Em 2021, dados da Organização Internacional do Açúcar (OIA) indicam que a produção global de etanol deverá ficar em torno de 104 bilhões de litros. Mesmo com a pandemia, serão 3 bilhões de litros a mais do que em 2020. Vários países estão ampliando a utilização de etanol na sua matriz de transporte, como a Índia, Tailândia e Colômbia. São mercados com grande potencial de crescimento para os biocombustíveis, principalmente em países onde a cultura da cana-de-açúcar é tradicional. Estudos indicam que o etanol apresenta potencial para atender cerca de 20% da demanda de gasolina no mundo. Hoje, 60 países possuem mandatos ou têm a intenção de misturar biocombustíveis à gasolina, seja para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa ou para ampliar a segurança energética. Aproximadamente 85% da produção mundial se concentra no Brasil, Estados Unidos e Europa.

TW – Quais os países que mais utilizam etanol em suas matrizes de energia?

JCF – Nas Américas do Sul e Central, Brasil e Paraguai são os países que registram a maior porcentagem de mistura de etanol à gasolina em todo o mundo, com 27% (E27) e 25% (E25), respectivamente.  Argentina (E12), Colômbia (E10), Jamaica (E10), Peru (E7.8), Costa Rica (E7), Chile (E5) e Panamá (E2) aparecem na sequência.  Os Estados Unidos são atualmente o maior consumidor de etanol do mundo com a mistura E10. No Canadá, as misturas variam entre E5 e E8.5, dependendo da província. Até o fim do ano passado, a União Europeia, por meio de uma Diretiva sobre Energias Renováveis (RED, na sigla em inglês) impunha que 10% de toda a energia consumida nos seus 28 países-membros viesse de fontes limpas, como o etanol. Na Ásia, Índia e China avançaram muito em políticas de adição de etanol à gasolina. Recentemente, o governo indiano, que implementará o E10 no próximo ano, já anunciou a intenção de adotar o E20 para 2023, meta que originalmente seria 2025. Na China, o E10 é usado em nove províncias já faz alguns anos. No Pacífico, Filipinas (E10), Vietnã (E5) e Taiwan (E3) possuem mandatos estabelecidos de mistura à gasolina. A Tailândia, grande produtora de cana- -de-açúcar, tem feito experiências com o E10 e o E20. Na África, Angola, Quênia, Moçambique, Malawi e Nigéria praticam o E10 há alguns anos. Como se pode perceber, o uso do etanol tem-se ampliado de forma significativa em vários países.

TW – Como está o Brasil em relação ao resto do mundo no desenvolvimento do etanol de segunda geração, e por que esse tipo de etanol é considerado importante na indústria de biocombustíveis?

JCF – O etanol de segunda geração (2G) aumenta a produtividade da cana- -de-açúcar em termos de litros de etanol produzidos por hectare de cana colhido, além de aumentar a eficiência ambiental nas unidades produtoras. Brasil e Estados Unidos lideram esta corrida.  No Brasil, já temos uma planta em funcionamento na cidade de Piracicaba (SP), da Raízen, que tem planos de ampliação para mais três usinas dedicadas à produção do 2G nos próximos anos. A empresa, uma joint-venture da Cosan com a Shell, avalia, inclusive, licenciar sua tecnologia para outros países que precisam investir em energias renováveis, algo essencial para o etanol ser uma commodity global.

TW – Muitos consumidores afirmam que só vale abastecer com etanol quando ele custar, no máximo, 70% do valor da gasolina. Com a evolução dos motores flex nos últimos anos, esta proporção ainda é a mesma?

JCF – Já existem análises demonstrando que em alguns carros flex essa relação pode chegar a até 80%, de acordo com testes divulgados na imprensa, como no Jornal do Carro. Isso sem considerar o benefício ambiental gerado pelo uso do etanol. Além da evolução dos motores flex, outros fatores que devem ser observados pelo consumidor são o percurso e a forma de dirigir, o que influencia no gasto do combustível. O motorista deve fazer a conta do seu carro. O mais importante é que a indústria automotiva nacional continue a se desenvolver neste sentido. Para isso, o recém-criado Programa Combustível do Futuro, instituído em abril deste ano, terá um papel importante no incentivo de fontes alternativas de energia e fortalecimento do desenvolvimento tecnológico nacional.

TW – Pode destacar práticas sustentáveis usadas na produção de etanol?

JCF – Como já dito, o Programa RenovaBio vai estimular a eficiência ambiental das usinas brasileiras. Neste caso, as usinas devem investir na redução da utilização de combustíveis fósseis, de fertilizantes químicos, principalmente os nitrogenados, aumentar a cogeração por meio da utilização do biogás, produzido da vinhaça e torta de filtro, resíduos da produção de etanol. A indústria sucroenergética nacional é hoje uma economia circular que deve servir de exemplo para várias outras agroindústrias. No que se refere à práticas sustentáveis de cultivo, no Estado de São Paulo, polo canavieiro responsável por 45% da produção nacional de etanol, vigora, desde 2007, o “Protocolo Etanol Mais Verde”. Nesta iniciativa, parceria do governo estadual com o setor sucroenergético, que hoje tem a participação de 117 usinas e 13 associações de fornecedores de cana (5.120 produtores independentes), foi estabelecida uma série de diretivas técnicas de sustentabilidade para a produção de cana e seus produtos derivados. São 4,4 milhões de hectares de cana compromissados com boas práticas agrícolas. isto representa 91% da cana processada no Estado e 43% da produção nacional de etanol. Como resultado, na safra 2020/2021, a mecanização da colheita da cana erradicou o uso do fogo nos canaviais – técnica antes utilizada para facilitar o corte manual da cana – evitando a emissão de mais de 11,8 milhões de toneladas de CO2 e de 71 milhões de toneladas de monóxido de carbono, material particulado e hidrocarbonetos, poluentes extremamente nocivos à saúde.  Em paralelo, o setor produtivo restaurou mais de 132 mil hectares de áreas ciliares e 7.315 nascentes, plantando mais de 46,7 milhões de mudas nativas. O “Etanol Mais Verde” também incentivou o consumo mais racional de recursos hídricos nas usinas paulistas. Atualmente, o processamento da cana utiliza 0,82 m³/tonelada moída, uma redução de 46% do consumo de água.

TW – A lavoura de cana representa algum risco para outras culturas ou biomas?

JCF – A cana-de-açúcar se mostrou bastante adaptada em São Paulo, sul de Minas Gerais e Goiás, norte do Paraná, parte do Mato Grosso do Sul e no Norte e no Nordeste. Nestas regiões, os canaviais estão a milhares de quilômetros de distância de biomas sensíveis, como a Amazônia. É importante ressaltar também que, no Brasil, o plantio de cana é regrado por um Zoneamento Agroecológico. Trata-se de uma regra federal que limita a expansão do cultivo da cana. Além disso, com o setor sucroenergético ocupando somente 1,2% do território nacional, produz-se alimento, como o açúcar, do qual somos os maiores produtores mundiais, e bioenergias, como o etanol e bioeletricidade. Neste último caso, a eletricidade obtida da cana fornece energia complementar para o sistema nacional, e apresenta um potencial equivalente a quase 50% da energia gerada em 2019 pela Usina Itaipu ou a 90% da Usina Belo Monte em plena operação.

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