Frederico Lapenda – a criatividade e competência brasileira que conquistaram o showbusiness
Conhecido por seu pioneirismo e determinação, Frederico é pernambucano do Recife. Filho de um odontologista alagoano e, e de uma talentosa pintora carioca, migrou para os Estados Unidos aos 18 anos. Muito focado no exemplo de seu pai e também talentoso como sua mãe, o jovem se dedicou aos estudos e aos seus sonhos. Acreditou que era possível construir um legado.
Recebido por uma família americana, chegou para estudar. Logo que concluiu o ensino médio, o chamado High School, começou a trabalhar como entregador de pizzas. Juntou algum dinheiro e montou seus primeiros negócios, que já lhe rendiam o suficiente para pagar a faculdade. Formado em Televisão e Cinema, começou sua jornada no mundo do entretenimento com as lutas de MMA. Em 1993, após conhecer Art Davie, um dos fundadores do UFC, Frederico se dedicou a produzir lutas de MMA e transmiti-las para TV por redes privadas, cabo e pay-per-view.
Logo se tornou uma lenda do showbusiness com seus eventos de lutas e até hoje é mais lembrado pelos fãs desses esportes por seus trabalhos realizados na área. Depois de uma década dedicada à TV, voltou-se novamente para o cinema atuando no prestigiado Grupo Mandalay. Não demorou para criar sua própria produtora, a Paradigm Pictures, e atuar com grandes nomes de Hollywood. Soma, até o momento, a produção de mais de 100 lutas, 2 video games, 40 filmes e documentários como Homens de Coragem e Fúria, com atores como Nicolas Cage e Danny Glover. Sua competência nas artes e na cultura não para aí. Ele ainda se dedica à literatura em livros como Aliados da Amazônia, A História do Samba e Welcome to Rio. Em tantos anos de aprendizado e realizações, afirma que “Filmes e seriados alavancam a cultura, a economia e o turismo”, e assim ele segue investindo em seu propósito.
Nesta entrevista exclusiva, ele nos conta como sobre esse caminho e como foi nomeado Embaixador do Brasil. Sua trajetória e seu trabalho servem de motivação a muitas pessoas e colaboram no desenvolvimento do país.
The Winners – Você chegou aos Estados Unidos aos 18 anos. Como foi esse início e o que te levou à promoção do esporte de Mixed Martial Arts (MMA)? Você ainda atua no setor? Conte-nos um pouco sobre esse momento.
Frederico Lapenda – Aos 18 anos, após passar no vestibular no Brasil, eu fui morar com a família americana Hansen. Estudei na High School e passei no Tofel, que é o teste para estrangeiros ingressarem na faculdade americana. Me formei, e, ao sair da faculdade, eu tinha duas opções: cinema ou televisão; eu optei por televisão. Durante uma década produzi lutas de MMA em países como Japão, Estados Unidos, Rússia, Holanda, Israel e outros. Eu ainda atuo no setor de lutas, mas de forma digital. Tenho uma empresa chamada www.Fight-Game. com, que patrocina lutadores e já lançou dois video games, um com a Xbox, o Fight Game Rivals, e outro com a Sony Ericsson, chamado Fight Game Heroes.
TW – Você sempre quis trabalhar com a televisão ou o cinema era a sua verdadeira paixão?
FL – Fui para os EUA com esse sonho, mas era muito inatingível. Quando estudei Cinema, um professor que tive, John Lennox, produtor do filme Splash (com Daryl Hannah e Tom Hanks), disse que daquela classe de 15 alunos talvez apenas 1 fosse produzir filmes. Na época o custo de produzir filmes era altíssimo: poucas distribuidoras e canais de distribuição, filmes rodados em 35 mm e a edição era muito cara. Digamos que não era muito democratizada e a tecnologia não era tão avançada. Entrar no cinema naquela época era uma barreira difícil de ultrapassar. John falou que quem quisesse trabalhar em televisão com certeza iria encontrar espaço, e também previu que no futuro haveria canais específicos. Eu queria cinema, mas a televisão foi a primeira porta que se abriu e eu precisava muito daquela experiência. Eu só falava inglês há cinco anos, me sentia desambientado e era muito imaturo. Então, esses 10 anos que passei produzindo lutas me ajudaram muito no meu crescimento.
Quando acabei aquela jornada, eu estava pronto, seguro, e muito bem -preparado. Porém, a verdade é que o cinema sempre foi a minha grande paixão! E no final de uma década trabalhando como produtor de televisão (lutas de MMA), eu tive que tomar uma decisão muito séria na minha vida: se eu ia ficar no MMA, onde eu já tinha minha carreira solidificada, ou mudar de carreira pela terceira vez e começar tudo de novo. Foi uma decisão fácil de tomar, e eu fui para o cinema. Como dizia minha mãe, “Nós temos a obrigação na vida de ser feliz”.
TW – Hoje sua principal atividade está na produção de filmes, chegando a presidir o Festival de Cinema de Beverly Hills, mas como foi o início da carreira neste segmento?
FL – Quando parei de promover lutas, me tornei um produtor independente da Mandalay, e consegui me tornar sócio fundador da Mandalay Lone Runner, onde produzi um filme maravilhoso chamado O Jogo Perfeito. Depois de uns anos criei minha própria produtora, a Paradigm Pictures, que acabou de fazer seu décimo sétimo aniversário.
TW – O fato de você ter produzido televisão, cinema, video game e música o preparou para ser presidente de um estúdio, certo?
FL – Sem dúvida, ter trabalhado em diversas áreas do mundo do entretenimento me preparou para administrar um estúdio, e durante uma época, junto a um empresário brasileiro, criamos um projeto para construir um estúdio no Brasil. Tivemos várias reuniões, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil com vários profissionais da área, porém no final o projeto não aconteceu. Acredito no destino, não era para ser.
TW – Quais características brasileiras foram importantes no seu processo de crescimento nos Estados Unidos?
FL – Ser brasileiro é um grande diferencial. O nosso povo é muito amado mundo afora. O brasileiro é alegre, sabe fazer amigos e tem um amor pela vida. Entre todos os países do mundo, somos um dos poucos que conseguiram implantar um estilo de música, a bossa-nova, que é uma grande referência nos Estados Unidos. Muitos cantores famosos fazem questão de dizer que são influenciados pela bossa-nova; na verdade, se tornou um requinte ser amante da bossa-nova. O brasileiro é bom em tudo que faz. Não só a bossa-nova, mas introduzimos uma forma de luta que desbancou o boxe no pay-per-view, o MMA. Durante anos, lideramos a Fórmula 1, sem falar que somos os reis do futebol, e por aí vai. Conseguimos mudar até a forma como as pessoas comem carne, pois as churrascarias brasileiras fazem sucesso em todos os lugares do mundo. Nosso açaí é sensação, temos a capoeira, e até os salões de beleza dos Estados Unidos aderiram às técnicas adotadas pelas mulheres brasileiras.
Então, toda vez que falei e falo que sou do Brasil, eu tenho todo esse branding por trás de mim. Ser brasileiro só me abriu portas. O país e o povo só precisam de uma coisa agora, em minha opinião, que é parar de falar mal do Brasil. Se tornou uma coisa tão normal que até o Papa Francisco recentemente chamou o povo brasileiro de cachaceiro e ninguém se manifestou. Sei que foi uma brincadeira, mas tenho certeza de que se alguém fizesse uma brincadeira com o Papa, muita gente ia revelar-se.
TW – Em Hollywood houve algum mentor, alguém que “abriu as portas” para você? E como é trabalhar com seus ídolos?
FL – Tive a bênção de ser apadrinhado por John Daily, produtor de filmes como Platoon, O Último Imperador e Exterminador do Futuro. Tínhamos uma coisa em comum: o amor pela luta, pois ele tinha financiado a luta de Muhammad Ali com George Foreman. John era um inglês muito brincalhão, sedutor e um excelente vendedor. Aprendi muito com ele. Ter tido a oportunidade de trabalhar com pessoas que admiro é sem dúvida uma das muitas dádivas que minha profissão me proporcionou. Se alguém tivesse me dito que aquele imigrante, sem dinheiro e órfão, iria um dia cocriar super-heróis ao lado do ícone Stan Lee, criador de Homem-Aranha, Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Thor e outros, eu não iria acreditar. Porém, hoje é muito claro para mim que tudo que você visualiza você realiza.
TW – Como um visionário, você diversifica seus investimentos em nichos de mercado como os games. Tem produções conhecidas como dois video games estrelados por grandes campeões, o Fight Game Rivals, para a Microsoft Xbox, e o Fight Game Heroes, para a Sony Ericsson. Com a pandemia de Covid-19 este foi um segmento que cresceu muito. Pretende investir em outras produções? Pode falar sobre elas?
FL – Sim, pretendo. E durante a pandemia eu investi em NFT, non-fungible token (em tradução livre, token não fungível), que se trata de um tipo de chave eletrônica criptográfica usada de forma única. Lancei os primeiros NFTs do Brasil com o Supla, Barbar Cani e Rarible. Sou muito aberto às mudanças do mercado, procuro sempre entender o que vem pela frente para me antecipar. Acho que a inteligência nivelou: hoje ganha quem age, mas rápido.
TW – Sabemos que cultura e educação caminham de mãos dadas. Sendo um grande incentivador das artes, você também se tornou escritor. Como isso ocorreu?
FL – Já desenvolvi seis livros de temáticas diferentes: infantil, MMA, samba etc. Um livro é uma propriedade intelectual e serve como rascunho para a construção de um roteiro. É a forma mais barata de se fazer um filme. Ali o orçamento não estoura e você escreve o que quiser. É uma excelente ferramenta de atração. Ele pode ser o início da aproximação com um estúdio ou uma emissora interessada em transformar aquilo num filme ou seriado de TV.
TW – O livro Aliados da Amazônia foi uma parceria sua com Stan Lee e Gabriel Chalita. Houve dificuldade para unificar ideias e conceitos neste projeto? Ele poderá virar um filme? Há projetos futuros?
FL – O Aliados da Amazônia fluiu de uma forma mágica, é uma aliança de grandes mentes: Stan Lee, Terry Douglas, Gabriel Chalita, Bruno, Miranda, FTD e eu. Sem dúvida houve uma intervenção divina para esse bebê nascer. Infelizmente, Stan Lee nos deixou e a pandemia vem nos massacrando há um ano e meio, porém, quando vislumbrei este projeto, o achei mais comercial que o Rei Leão. Comparar a nossa Amazônia com a savana da África é desleal, nossos animais são muito mais encantadores, especialmente para o público infantil. Os personagens de Stan Lee no passado viraram filmes, se Deus quiser o Aliados da Amazônia terão o mesmo destino.
TW – Você lançou, em março de 2019, o livro De Recife para Manhattan, de Daniela Levy, na Sinagoga Kahal Zur, Israel. O espaço onde foi feito o evento fica localizado na terceira rua mais linda do mundo, de acordo com a revista Architectural Digest, que é a Rua do Bom Jesus no Recife. Quais são seus planos para esse livro?
FL – Este é um projeto importantíssimo para o Brasil. Em minha opinião, é o projeto que mais chamaria a atenção da Academy of Motion Pictures, que faz a votação para o Oscar. O livro conta a história trágica dos judeus que foram expulsos do Brasil no começo do século XVII. Saíram do Recife em 17 barcos, e um dos barcos chegou aos Estados Unidos e ajudou na fundação da cidade de Nova York. A obra, que já está traduzida para o inglês, será lançada nos Estados Unidos assim que passar a pandemia. Após seu lançamento, o próximo passo será contratar um escritor para escrever esse roteiro e quem sabe produzir um filme.
TW – Em 2019, você foi nomeado Embaixador do Turismo pelo Ministro do Turismo Gilson Machado. O que isso representa e qual seu papel no setor de turismo?
FL – Pelé ocupou este cargo no passado, e é uma grande honra representar meu país. Só aceitei a função porque não é remunerada e pelo fato de já promover o Brasil há 25 anos nos projetos que desenvolvo. Trouxe dezenas de formadores de opinião para o Brasil. O produtor do Exterminador do Futuro, John Daly, Billy Zane, ator coadjuvante do Titanic, um dos maiores cantores countries do mundo, Alan Jackson, entre outros. Todos voltaram maravilhados, e quando nos encontramos em restaurantes de Los Angeles sempre fazem questão de me falar como amaram a experiência no Brasil. Minha função é de promover o Brasil para o mundo e unir empresas e pessoas entre os dois países que gerem benefícios e branding para o Brasil.
TW – Ser empreendedor nos Estados Unidos pode parecer fácil e difícil, dependendo da ótica das pessoas. Como você considera esse processo? Quais seriam as principais dicas?
FL – Eu acho que empreender nos Estados Unidos é muito convidativo, e agora com a tecnologia mais ainda. É um país com pouca burocracia, se abre e se fecha uma empresa muito rápido, tem juros baixos e um mercado que consome muito. O mercado digital se tornou mais forte durante a pandemia e as pessoas que eram resistentes à tecnologia hoje incluíram a inovação em seu cotidiano, o que favorece a possibilidade de empreender. Hoje em dia a pessoa pode até morar no Brasil e ter um negócio nos Estados Unidos. E as dicas são: estude o mercado para minimizar os erros, comece devagar, busque sócios estratégicos e se prepare bem.
TW – Você já deu declarações de como o Brasil é invejado e copiado no exterior. A que se deve este cenário? E como isso pode ser explorado para o crescimento do país?
FL – Eu acredito que a melhor forma de explorar o potencial do Brasil é atrair as pessoas para visitarem o país. E isto pode ser feito por meio do cinema, seriados de TV e a disseminação de conteúdo, depois que passar a pandemia da covid-19. A indústria do entretenimento pode ser ainda mais explorada, pois os países que exploram recebem muitos dividendos. O entretenimento movimenta três setores do país: a cultura, a economia e o turismo (em alguns casos a educação e a tecnologia). A cultura porque é a forma mais rápida, eficaz e eterna de se transmitir uma mensagem, um estilo de vida, e gerar soft power. A economia, por sua vez, é fomentada nas mais diversas áreas. Há estudos econômicos que apontam que cada 1 dólar investido na produção de um filme se transforma em outros 7 dólares aplicados na economia local indiretamente, além do fato de que a produção de um filme gera emprego e renda, pois são necessários de 50 a 100 funcionários para efetivar o projeto. Isso fortalece os laços com o local das filmagens e possibilita que essas próprias pessoas se efetivem ali. Muitas vezes eles investem, compram imóveis e até se casam com pessoas locais.
Nós temos exemplos de filmes memoráveis que alavancaram o turismo em vários países. Meus amigos, quando vem me visitar em Los Angeles, todos querem ir ao hotel do filme Uma Linda Mulher, no qual Richard Gere viveu aquele romance inesquecível com Julia Roberts. O filme de Mel Gibson, Coração Valente, que inclusive é meu filme favorito, alavancou o turismo da Escócia com números inacreditáveis. E outro grande exemplo é o filme A Praia, com Leonardo DiCaprio, que promoveu um verdadeiro boom no turismo da Tailândia.
Então, o entretenimento é uma arma que tem que ser usada. Veja o que o entretenimento fez para o estado da Flórida, Estados Unidos. Antes de uma criança chegar ao parque da Disney, ela já assistiu a vários programas do Mickey e conhece todos os seus amigos e o seu reino. Por que não copiar essa fórmula? Acredito que o Brasil tem potencial para conseguir resultados muito melhores que qualquer outro país se usar as ferramentas da indústria do entretenimento.
Confira essa entrevista na íntegra na banca digital.
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