Célia Parnes – uma vida dedicada ao cuidado e à defesa dos mais vulneráveis
Célia Parnes é natural de São Paulo, é formada em Administração de Empresas pela FEA-USP, com diversos cursos de especialização, no exterior, em Gestão, Governança e Inovação. Filha de Clara e Majer Chil Kochen, ainda na adolescência, iniciou sua carreira em Desenvolvimento Social. Eleita Mulher do Ano pela Câmara Municipal de São Paulo e Paulistana Nota 10 pela Revista Veja, foi nomeada, em janeiro de 2019, Secretária Estadual de Desenvolvimento Social de São Paulo. Atuou por mais de 30 anos na União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes), chegando à Presidência do Conselho, tendo implantado o primeiro Centro Dia do Idoso na capital e unidades de Serviço de Assistência Social a Famílias e Instituições de Longa Permanência para Idosos no município de São Paulo. Foi homenageada pelo Conselho Parlamentar das Comunidades Estrangeiras da Assembleia Legislativa de São Paulo, foi condecorada com a Medalha da Casa Militar do Estado de São Paulo e com a Medalha da Defesa Civil do Estado de São Paulo pelos serviços dignos de especial destaque prestados ao Estado.
Entre fevereiro de 2019 e agosto de 2020, foi a representante eleita da região Sudeste na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), reconhecida como inovação gerencial na política, de articulação e expressão das demandas dos gestores federais, estaduais e municipais, na área da Assistência Social. Em julho de 2020 foi empossada como membro do Conselho de Administração da Fundação OSESP e acumula posições em importantes entidades representativas do setor, como membro do Conselho do Grupo de Liderança e Networking ELF – Empoderamento e Liderança Feminina da FISESP – Federação Israelita do Estado de São Paulo, e membro do Conselho da CONIB – Confederação Israelita do Brasil. Em sua vida privada, destina seu tempo aos cuidados de seus três filhos (Paula, Adriana e Daniel), à leitura, aos esportes, à arte contemporânea e ao crochê. Mulher de convicções fortes, entende a importância de sua atuação na sociedade e contribui para o desenvolvimento do Estado e do País. Conheça um pouco mais sobre o que pensa e como atua Célia Parnes.
The Winners – Sua formação é em Administração de Empresas pela USP, certo? Em que momento a senhora percebeu que sua vocação estava na Assistência Social e como foi essa jornada?
Célia Parnes – O início da minha trajetória na área Social foi aos 14 anos, quando integrei um grupo de jovens que acompanhavam crianças da instituição em excursões e passeios. Desde então, passei a atuar em inovação e expansão de programas para comunidades que vivem em situação de vulnerabilidade social. A escolha pela minha graduação foi, então, parte do processo, natural e fundamental, agregando conhecimentos e ferramentas para a execução das atividades que já estava desempenhando na prática.
TW – A senhora atuou por mais de 30 anos na Unibes, chegando à Presidência do Conselho. Quais foram os maiores desafios e os melhores aprendizados?
CP – Toda essa experiência e construção da minha carreira profissional certamente me transformaram. O trabalho voluntário me proporcionou oportunidades de conhecer e atuar em campo para a solução de problemáticas reais, e que hoje são essenciais para o desenvolvimento das políticas públicas sociais. É um prazer poder fazer pelo outro. Um pequeno gesto faz as pessoas se sentirem mais seguras e protegidas, o que contribui para seu bem-estar emocional, dando coragem para prosperar.
TW – Entre fevereiro de 2019 e agosto de 2020, foi a representante eleita da região Sudeste na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), entre outros prêmios e títulos que coleciona em sua carreira. Como esse conjunto de reconhecimento contribui no seu trabalho?
CP – Reconhecimentos, sejam eles prêmios, títulos ou designação para uma determinada função, são essenciais para o encorajamento e a motivação durante o processo de desenvolvimento de carreira. Estar segura e preparada é algo que a gente, individualmente, nunca sente que está; mas aprendi desde pequena a oferecer o meu melhor, independentemente da situação, me dedicando sempre ao máximo, o que me proporciona diariamente a confiança para próximos passos e desafios à frente. Além disso, tenho muito orgulho, hoje, de poder ocupar essa posição, representando, instigando e promovendo discussões acerca de temas tão relevantes e necessários para o nosso país. O desenvolvimento social é base para o acolhimento das pessoas e é ponto de partida para oportunidades futuras – fazer parte desse todo é fonte de amor e muita gratidão.
TW – Em suas entrevistas, a senhora defende o “desenvolvimento social como promotor da equidade racial”, a inclusão produtiva, a economia criativa com o foco em incluir, capacitar e reinserir as pessoas no mercado de trabalho e ao seio familiar. Como isso funciona na prática?
CP – Dignidade, respeito e autonomia. Esses são princípios essenciais para o ser humano e para a busca contínua da sociedade na inclusão social. É a partir do acolhimento e do fortalecimento da autoconsciência e/ou autoconfiança, minimizando os fatores que expõem a pessoa à vulnerabilidade, que é possível iniciar processos de capacitação, educação continuada, inclusão produtiva, geração de renda e, consequentemente, promoção de mobilidade social do indivíduo. A exemplo disso, temos o Prospera Jovem, que, por meio do reconhecimento da situação peculiar e do desenvolvimento de potencialidades, reconhece o estudante como sujeito e protagonista de sua história, de maneira a viabilizar a busca consciente e consistente de seus objetivos de vida. Já a Casa de Passagem LGBTQIA+, equipamento do Programa Recomeço (política sobre drogas), compreende as particularidades e oferece acolhimento dedicado para o fortalecimento de seus vínculos rompidos, sendo o caminho para a recuperação e reinserção social. A proteção social e a garantia de direitos vão sempre permear programas e projetos da política de Assistência e Desenvolvimento Social. E, tão importante quanto o acolhimento, é fortalecer ações que promovam a dignidade e a autonomia do cidadão, oferecendo mecanismos para, assim, criar um novo paradigma e uma mudança de cultura individual e coletiva.
TW – Em janeiro de 2019, a senhora assumiu a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social de São Paulo. Um ano depois enfrentou a maior crise sanitária da atualidade. Como foi gerir uma das pastas mais importantes durante a evolução da pandemia da Covid-19?
CP – Estar à frente da pasta do Social, durante o período impactado pela pandemia do novo coronavírus, é ter a oportunidade de mudar o ponteiro dos indicadores sociais por meio de uma gestão de atualização e renovação de políticas públicas, para melhorar a efetividade das entregas e para poder propor ações inovadoras que enderecem as problemáticas contemporâneas, valorizando sempre o indivíduo. A experiência é única, nem de longe eu poderia imaginar os obstáculos e aprendizados diários que tenho. Não posso negar os momentos de dificuldades, mas sempre que paro para refletir e olhar todo o trabalho que estamos desenvolvendo, sinto orgulho, uma satisfação e muita gratidão por estar vivendo essa oportunidade. São muitos os desafios que buscamos atender, pois o desenvolvimento social se faz presente em todo lugar, afinal, trabalhamos com pessoas. O que a minha proposta de gestão está endereçando com maior prioridade são propostas inovadoras que levem em conta o cenário atual e a necessidade de dar respostas rápidas e efetivas para promoção de mobilidade social, enfrentamento das vulnerabilidades e garantia de direitos aos cidadãos. Reforço, ainda, que a pandemia da Covid-19 nos impôs inúmeros e diários desafios, nos pressionando por tempo em relação às vulnerabilidades da população, das famílias em extrema pobreza, dos “invisíveis”. Para isso, estamos atentos e trabalhando com afinco, coragem, velocidade e impulsão, para promover a inclusão produtiva, a mobilidade social e a autonomia.
TW – Como avalia os impactos das ações e dos programas desenvolvidos pela Secretaria Social para a população em maior vulnerabilidade social?
CP – Apesar da pandemia, nosso trabalho no Estado não parou um segundo sequer. Programas e projetos em curso seguiram seu fluxo habitual, apesar das restrições e do isolamento impostos pelas novas condições sanitárias e de saúde. No incansável percurso para atender aos mais vulneráveis, o governo do Estado ainda lançou projetos e programas, como foi o caso do Alimento Solidário, que, em 2020, promoveu a entrega de cestas de alimentos, atendendo a mais de 4 milhões de pessoas, distribuídas nas seis regiões metropolitanas do Estado, garantindo a segurança alimentar de pessoas em extrema pobreza. Nesse cenário, não posso deixar de mencionar o envolvimento de empresários que, coordenados pelo governador João Doria, formaram o Comitê Empresarial Solidário para compor as estratégias de contenção da pandemia. A parceria arrecadou doações de bens e serviços para investimentos no enfrentamento da Covid-19 em todo o Estado. Desse montante, 36% foram destinados às ações socioassistenciais para a população em maior vulnerabilidade.
TW – Quais as demais medidas adotadas pela pasta no combate à fome?
CP – Na fase mais crítica da pandemia, além da distribuição das cestas do Programa Alimento Solidário, o Bom Prato e o Vivaleite (os dois principais programas de segurança alimentar do Estado) sofreram adaptações importantes. Os restaurantes do Bom Prato passaram a distribuir as refeições com embalagens e talheres descartáveis, ampliaram o horário de atendimento para os finais de semana e feriados, com aumento da oferta em 1,2 milhão de refeições em todo o Estado, totalizando 3,2 milhões de refeições ao mês (café da manhã, almoço e jantar). Verduras e legumes passaram a ser adquiridos de pequenos produtores rurais e a população de rua passou a receber mais de 500 mil refeições gratuitas. No Vivaleite, houve a grande expansão de entrega, por mês – 15 litros de leite enriquecido com Ferro e Vitaminas A e D –, para acolhidos em 590 equipamentos para idosos em situação de vulnerabilidade social, totalizando mais de 21 mil beneficiários. Isso sem contar a suplementação proteica.
TW – Em relação às mulheres em situação de vulnerabilidade social, de que forma a senhora, como mulher e gestora da pasta social estadual, tem atuado e olhado para esse público?
CP – Uma das prioridades do governo do Estado de São Paulo, sempre lembrada pelo governador Doria, são as questões relativas às mulheres que têm sido incluídas em diversos programas e projetos. O governo do Estado vem priorizando exaustivamente o combate à violência contra a mulher, antes mesmo da pandemia, com inúmeras medidas, como é o caso do aplicativo SOS Mulher, pelo qual aquelas que já contam com medidas protetivas podem acionar a polícia com um simples toque na tela do celular em caso de risco iminente. Atualmente, são 133 Delegacias da Mulher (DDM), sendo 16 na Grande São Paulo e 108 no Interior e no Litoral. A Secretaria de Desenvolvimento Social desempenha um papel importante na força-tarefa do Estado, na proteção e no atendimento às mulheres vítimas de violência, com uma ampla rede socioassistencial. Os atendimentos são oferecidos em 303 Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), porta de entrada para esse tipo de atendimento. Além disso, existem 1.160 Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) para identificar e amparar as mulheres agredidas.
TW – Considerando também o aumento do desemprego com a pandemia, como a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social tem contribuído na retomada econômica da população mais fragilizada?
CP – A segurança socioeconômica sempre esteve em nossa agenda. Além de todo o movimento coletivo e integrado do governo estadual, a Secreta[1]ria de Desenvolvimento Social buscou concentrar seus esforços para barrar o expressivo aumento da pobreza, com foco nos benefícios e programas de transferência de renda. Entre os benefícios, estão o Renda Cidadã e Renda Cidadã Idoso, Ação Jovem, além do Bolsa do Povo, que reúne as ações estaduais no maior programa de assistência social da história do Estado. Da mesma forma, programas para a promoção da autonomia por meio da geração de empregos e da qualificação profissional para pessoas de baixa renda, como o Prospera Jovem e o Prospera Família, destinado a estimular a mobilidade social de jovens e famílias em situação de vulnerabilidade, pelo desenvolvimento de suas potencialidades enquanto sujeitos e protagonistas de sua história, com seus objetivos de vida, ganharam um olhar especial nessa retomada. Sob a ótica do acolhimento e com um olhar absolutamente humano para aqueles que perderam ao menos um integrante do seu núcleo familiar, foi lançado o SP Acolhe, um programa totalmente inédito e inovador, dedicado a oferecer auxílio financeiro de R$1.800 com o objetivo de apoiar a família a recompor a renda familiar, a planejar individualmente sua retomada econômica, com mais estrutura financeira, mesmo após este momento tão doloroso, que é a perda de um ente querido. Um governo que preza pelo social, valoriza o aspecto humano, dedica e volta suas principais estratégias àqueles com mais fragilidade social, como é o caso do nosso Estado; sob a gestão do governador Doria, não mede esforços para que a população dos 645 municípios esteja segura emocionalmente e amparada financeiramente.
TW – Quais ações ainda podem e devem ser feitas para acelerar o processo de desenvolvimento social?
CP – Como todo imenso desafio, dada sua abrangência e profundidade, vejo ainda a necessidade de integrar a administração pública, a sociedade civil organizada, as universidades, os órgãos de controle e outros atores sociais relevantes em um debate profícuo e necessário, capaz de fazer emergir novos paradigmas de atuação e gestão da política para o desenvolvimento social. Temos à nossa frente oportunidades para demonstrar, na prática, os limites e as possibilidades de atuação para a pro[1]moção de uma sociedade diversa, inclusiva e igualitária.
TW – O que a senhora espera deixar como legado?
CP – Espero que esta gestão seja marcada pela eficiência e pela capa[1]cidade de entrega. Temos trabalhado arduamente, ainda mais com a transversalidade da pandemia do novo coronavírus, tanto para renovar os programas que já são essenciais para a pasta, modernizando e adequando às novas realidades, quanto para implementar ações para esse “novo normal”. A partir das mudanças e das reorganizações que temos feito, espero apenas continuidade, seriedade e comprometimento da próxima gestão, não só com a causa, mas também com todos os profissionais, servidores públicos, que se dedicam a fazer acontecer.
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