Ana Cláudia Badra Cotait – a força na defesa do empreendedorismo feminino
Descendente de libaneses, Ana Cláudia Badra Cotait herdou da família a vocação pela comunicação e a paixão pela política. Mas, foi a vivência com empreendedores que a motivou a trabalhar pelo desenvolvimento do setor e atuar ao lado do marido, Alfredo Cotait Neto, presidente da FACESP e ACSP. De suas raízes trouxe a coragem e persistência na busca por objetivos, e acredita que sempre é possível vencer os obstáculos! Em suas visitas ao Líbano resgata as origens e se identifica com o país, tão pequeno e tão grandioso em cultura e história. Seu lema de vida: “Se tivermos força de vontade e fé, a gente consegue! E isso o libanês tem de sobra!” Mãe de um único filho, Diego Badra, renomado chefe de cozinha em Brasília, é avó de Stella Badra. Sua família é seu porto seguro e sua base. Formada em Jornalismo e Letras, atuou no Senado Federal, o que define como uma escola de vida. Foi diretora da Foco Editora LTDA e se destacou com a Revista FOCO, extremamente empreendedora, o que deixou claro seu propósito e missão de vida: contribuir no desenvolvimento e crescimento das micro e pequenas empresas do país. Hoje, à frente do CMEC – Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura da Associação Comercial de São Paulo e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, um trabalho voluntário, se sente realizada. Ao assumir a função em 2019 incorporou a Cultura, passando a chamar-se CMEC – Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura, ampliando significativamente a quantidade de Conselhos da Mulher entre as Associações Comerciais do Estado de São Paulo. Em seu mandato, alguns projetos são destaque e reconhecidos nacionalmente, como: Prêmio Tarsila Amaral, crédito para mulheres empreendedoras via ACCREDITO SCD, PROFIS ONLINE (plataforma de cursos profissionalizantes), FACESP Mulheres (programa de cursos específicos para mulheres) e, em breve, o lançamento do programa de entrevistas de empreendedorismo feminino chamado “CMEC por Elas”. Conheçam um pouco mais da vida e da obra desta líder do empreendedorismo feminino.
The Winners – A senhora se formou em Letras e Comunicação Social, e atuou na área editorial. Como vê a carreira no segmento e os desafios da profissão?
Ana Cláudia Badra Cotait – Fiz Jornalismo e Letras, mas com 21 anos entrei no Senado Federal concursada, e minha carreira foi dedicada ao serviço público. Como jornalista, passei apenas a colaborar com as empresas da família na produção de matérias e entrevistas pontuais. Além disso, fui diretora da Foco Editora LTDA com sede em Brasília e filiais em São Paulo e Goiás. Minha mãe, Consuêlo Badra, foi uma jornalista extremamente empreendedora e influente, minha inspiração e referência na vida profissional. Vejo que nos tempos atuais o jornalismo tornou-se muito mais interativo e dinâmico, onde a notícia tem que ser transmitida na hora, senão caduca. A necessidade da dedicação a essa carreira tem que ser full time. A liberdade de expressão conquistada ao longo do tempo permite que os profissionais possam emitir sua opinião de forma clara, elucidativa e sincera.
TW – Sua trajetória é conhecida pela concepção e execução de projetos culturais. Quando aflorou seu interesse pela cultura e costumes? Fale um pouco deste momento e do cenário que vê no país.
ACBC – Foi no Senado Federal. Ser funcionária pública é extremamente difícil. Se você não é criativo se acomoda naquela vidinha e não cria, e se torna extremamente acomodado naquela função até se aposentar. E eu não me via assim. A cultura ameniza um pouco as dificuldades que vivemos, por isso, em tudo que eu fazia no Senado, a cultura esteve presente. Dava mais leveza ao meu trabalho. Criei vários projetos culturais. Um deles foi a participação do Senado Federal nas Bienais de Livro e outro, que era maravilhoso, o Senado Cultural. Várias exposições contando a nossa história, lançamento de livros, parcerias com José Mindlin e Academia de Brasileira de Letras. Enfim… Cultura te leva a um mundo totalmente infinito. O meu trabalho no Senado não tinha sentido se não tivesse a cultura inserida nas ações. E no CMEC não é diferente.
TW – No seu ponto de vista, qual é a importância do associativismo no desenvolvimento da sociedade?
ACBC – Acredito que juntas (os) somos mais fortes, e pertencer a alguma instituição associativa “te dá um colo”. Quem é associado consegue se fortalecer e ter ajuda no momento difícil. Outro ponto que chama atenção é ouvir o velho mote de que as mulheres não são unidas. Ao assumir os cargos de Presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Federação das Associações Comerciais do Estado (FACESP) e Associação Comercial de São Paulo (ACSP), me deparei com uma realidade bem diferente. A primeira coisa que fiz foi estabelecer a cooperação com vários grupos de mulheres para termos ações conjuntas e ajudar outras mulheres. As mulheres são unidas, sim! O associativismo acolhe. Vejo nos membros da Associação Comercial de São Paulo uma paixão pela entidade inacreditável. A vontade de participar voluntariamente é praticamente unânime. Os associados têm a certeza da segurança, além do acesso a produtos, vitrine de descontos, capacitação, políticas públicas, representatividade, qualificação, e hoje, principalmente, o crédito. Veja como o associativismo é importante. Essa questão ficou ainda mais evidente durante a pandemia da Covid-19, onde muitas pessoas estavam literalmente sozinhas. No associativismo, elas se sentem amparadas.
TW – Entre suas funções, uma delas foi a de diretora da Câmara de Comércio Brasil-Líbano. Isso lhe ajudou de que maneira a perceber as necessidades do Brasil em relação ao mundo? O que poderia ser destacado em relação a esse tema?
ACBC – Assumi recentemente o cargo de diretora na Câmara de Comércio Brasil-Líbano e pretendo alinhar ações de empreendedorismo feminino, buscando integrar as empreendedoras no comércio entre Líbano e Brasil. Faço parte de mais três grupos que apoiam internacionalmente as mulheres com importação e exportação, são eles: Grupo Hera (Portugal), Wicci (Brasil-Índia) e a OBME – Organização Brasileira de Mulheres Empresárias (Mercosul).
TW – Atualmente, a senhora ocupa o cargo de presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Federação das Associações Comerciais do Estado (FACESP) e Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Como é estar à frente desta função, quais são os desafios, a missão e o resultado?
ACBC – Quando aceitei o desafio proposto pelo meu marido Alfredo Cotait, percebi a responsabilidade e a oportunidade de dar espaço e voz às mulheres dentro de uma instituição tão sólida. Durante meu primeiro mandato, no biênio 2019 a 2021, enfrentei muitos desafios, mas conseguimos ampliar o número de conselhos nas Associações Comerciais, que passou de 5 para 120, distribuídos entre as cidades do estado de São Paulo. Formalizamos termos de cooperação com importantes entidades de apoio ao empreendedorismo feminino, como Sebrae, Instituto Êxito, Mulheres do Brasil, Beauty Fair com os profissionais da beleza, OBME, Rede Mulher Empreendedora, Mulheres que Decidem, OAB Mulher, podendo, assim, por meio do associativismo, fortalecer as mulheres. A principal missão é aproveitar a capilaridade das 15 distritais da ACSP a cidade de São Paulo e das 420 Associações Comerciais do Estado para fortalecer e incentivar a participação da mulher nas decisões em suas empresas, na sociedade e na política. O desafio é enorme, mas tenho feito tudo com muito entusiasmo e amor, sempre com o apoio da entidade, seus dirigentes e voluntários.
TW – Entre suas bandeiras, está a inserção da Cultura como um pilar do CMEC. A senhora acredita que este processo contribui de que maneira no empreendedorismo?
ACBC – É uma forma de divulgar a cultura no estado de São Paulo por meio de suas Associações Comerciais e com isto incentivar e estimular o empreendedorismo cultural feminino. Temos empreendedoras em todos os setores e segmentos. Há possibilidade de atuação no teatro, na música, na arte, na dança, no artesanato, no livro. Atuando pelo foco da cultura, podemos contribuir com o empreendedorismo e, ao mesmo tempo, promover eventos culturais em todo o estado. Importante ressaltar que muitas vezes, quando falamos em cultura, as pessoas correm léguas. É muito difícil o interesse pela cultura. Os nossos planos são de incentivo e divulgação. Assim, poderemos trabalhar pelo acesso à cultura e pela consolidação do empreendedorismo.
TW – As entidades onde atua são conhecidas por sua proatividade no empreendedorismo no estado de São Paulo. Em sua opinião, o que podemos dizer de positivo e negativo em favor das micro e pequenas empresas no Brasil?
ACBC – O ponto negativo no Brasil é que a carga tributária, a burocracia, as obrigações acessórias, a instabilidade política e econômica, a insegurança jurídica fazem com que o país não seja tão bem avaliado no mundo como competitivo e empreendedor. Porém, temos um povo batalhador e que não desiste de empreender. O brasileiro consegue superar crises quando aliado a instituições fortes, como as Associações Comerciais, que defendem a livre iniciativa, a desburocratização e oferecem benefícios concedidos exclusivamente ao micro e pequeno empreendedor. Nesta luta, ainda é necessário um olhar mais atencioso ao microempreendedor individual, que muitas vezes não tem acesso a crédito, capacitação e a novos mercados.
TW – Acredita que há diferença no incentivo ao empreendedorismo feminino? Como a senhora vê as políticas de apoio às mulheres neste contexto?
ACBC – As políticas de apoio às mulheres estão em ascensão, principalmente as políticas públicas. Temos grandes conquistas, levando em consideração que hoje as mulheres são verdadeiramente as “chefes de família”. É necessário ainda apoiar as grandes executivas, para que haja equidade salarial, estimulando, assim, as relações comerciais entre mulheres, e buscando isonomia pelo mérito e não pelo gênero.
TW – Atualmente, fala-se muito do “empoderamento feminino”. Em sua opinião, essa é a abordagem correta?
ACBC – Não gosto do termo “empoderamento feminino”. Prefiro o termo “fortalecimento do empreendedorismo feminino”. Acho que a mulher tem que ser estimulada a se fortalecer tanto na vida profissional como na emocional. Uma mulher forte se coloca da forma que quiser na vida.
TW – Em seus discursos, a senhora aponta a importância da valorização da mulher na sociedade de forma ampla. Mas, no seu ponto de vista, qual a diferença entre o movimento que destaca o feminino versus o movimento feminista?
ACBC – O movimento feminista tem sua importância, e foi fundamental para a conquista de muitos direitos das mulheres, com destaque para o direito ao voto. Através destas conquistas, as mulheres podem, hoje, atuar em diversos segmentos, unindo-se por um único propósito, ampliando, com isso, o número de mulheres fortalecidas. O termo “feminista” remete à ideia de adepto de doutrina, com uma certa rigidez. Na minha opinião, “Movimento feminino” é um termo mais adequado ao atual momento, onde as mulheres lutam por igualdade de direitos enfrentando todas as dificuldades com diplomacia e sensibilidade, característica marcante da mulher.
TW – Quais foram os principais projetos de apoio às mulheres implantados sob sua gestão à frente do CMEC?
ACBC – Nosso primeiro projeto foi o FACESP Mulheres, em parceria com o SEBRAE, levando cursos dentro das sedes da Associações Comerciais. Ampliando a qualificação, criamos o PROFIS ONLINE, um marketplace de cursos on-line, para apoiar os empreendedores neste momento tão difícil. Notei que durante a pandemia da Covid-19 os empreendedores não conseguiam acesso a crédito e, em parceria com a ACCREDITO SCD, lançamos o CRÉDITO PARA MULHERES, uma linha de crédito sem garantia, com taxas competitivas, para apoiar as pequenas empreendedoras.
TW – Um dos projetos de destaque é o Programa ACCREDITO – MULHER EMPREENDEDORA. Como nasceu a ideia e como foi a execução do projeto? Ele deve colaborar no empreendedorismo feminino de que forma?
ACBC – Em plena pandemia eu assisti à crescente necessidade de crédito especialmente para as pequenas empreendedoras e, atuando em parceria com a ACCREDITO – Sociedade de Crédito Direto – que é uma instituição financeira controlada pela Associação Comercial de São Paulo e pela FACESP, lançamos o Programa ACCREDITO – MULHER EMPREENDEDORA, que é uma linha de microcrédito sem garantias físicas, com taxas competitivas, parcelada em até 36 meses (com carência de até 9 meses), para que as pequenas empreendedoras possam adquirir mobiliários, equipamentos, ferramentas, insumos e/ou capital de giro. A necessidade do crédito é emergencial, mas vale ressaltar que o crédito neste momento só é salutar para quem quer impulsionar o seu negócio. Crédito para pagar dívidas não, de forma alguma.
TW – Durante sua gestão, foi criado o Prêmio Tarsila do Amaral. Qual a importância dessa iniciativa?
ACBC – A cultura – prioridade para mim! É por meio dela que podemos notar a sensibilidade da mulher. Criamos o prêmio para dar visibilidade às empreendedoras que são revelação no estado de São Paulo e estimular as profissionais da cultura, que são excelentes empreendedoras! Em nossa primeira edição, em 2019, foram premiadas mulheres que tiveram grande destaque e sucesso no empreendedorismo feminino em diversas áreas. Já na segunda edição, em 2020, o foco foi para mulheres empreendedoras, com o objetivo de incentivar e promover, por meio de casos reais, o empreendedorismo feminino no estado de São Paulo. Inspiradas na trajetória de Tarsila do Amaral, uma mulher sempre à frente do seu tempo, e com destaque na história cultural de nosso país, premiamos profissionais nas seguintes categorias: Economia, Comunicação, Cultura, Moda, Políticas Públicas, Empresária revelação 2020.
TW – Fazendo um paralelo do realizado em sua gestão e as necessidades de apoio às mulheres empreendedoras, o que falta ainda? Quais os planos futuros? Qual deve ser seu legado?
ACBC – Ampliar o empreendedorismo feminino no estado de São Paulo é fundamental para que as mulheres possam aumentar seus rendimentos, gerar empregos, ter sustentabilidade no mercado e, sobretudo, ser independentes e protagonistas de suas vidas. Os planos do futuro devem ser destinados sempre ao empreendedorismo, investindo também em educação, varejo, vendas e cultura, pois essas são as principais ferramentas que possibilitarão a todos terem acesso a uma vida melhor, bem estruturada e atingir seus sonhos e desejos.
TW – Como uma das líderes no processo de incentivo ao desenvolvimento do empreendedorismo feminino, qual seria sua mensagem para as mulheres e para a sociedade?
ACBC – Os desafios para as mulheres sempre foram e são muito maiores e, por isso, é importante que ela esteja capacitada e qualificada para chegar aonde ela quiser.
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