1922 – A Semana de Arte que revolucionou o Brasil
O ano de 2022 está rico em comemorações da história e da cultura do Brasil. Logo no início deste ano, tivemos a lembrança do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, cujo evento – que ocorreu em três dias (13, 15 e 17 de fevereiro de 1922), apesar de se chamar Semana – foi um divisor de águas nas produções culturais do país e destacou o protagonismo de novos nomes em todas as manifestações artísticas. Foi o momento de formação do Modernismo brasileiro, e a união de seus membros culminou na montagem da Semana de Arte.
O palco da Semana foi o Theatro Municipal de São Paulo, importante para a cidade que estava em pleno desenvolvimento e para os modernistas, naquele momento, São Paulo representava a materialização do abandonar o rural, o campo, pela urbanização; possibilitando o nascimento de uma “Capital Cultural” – até então, centrada no Rio de Janeiro. Para a historiadora e crítica de arte Alecsandra Matias de Oliveira, o Modernismo é composto por várias linguagens e vários movimentos artísticos. São artistas futuristas, abstracionistas, cubistas… eles não têm nada em comum. A única coisa em comum é que todos querem romper com o academicismo. O chamado Grupo dos Cinco (Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade) busca descobrir o que é original do Brasil, no sentido de origem, de cerne, de essencial. Essa busca é inspirada no movimento das vanguardas europeias, que procuravam o primitivo em cada cultura, o que fazia a diferença em cada uma.
Nos anos 1930, vemos os desdobramentos desse movimento – iniciado nos anos 1920 e consolidado com o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) e o Manifesto Antropófago (1928), ambos de Oswald de Andrade. Surge a segunda geração de modernistas (Alfredo Volpi, Francisco Rebolo e Fúlvio Pennacchi), em sua maioria, imigrantes e filhos de imigrantes – ou seja, já não são de uma classe abastada, como a primeira geração. Eles estão mais envolvidos em uma ligação da arte com a política: a situação de trabalhadoras e trabalhadores, o flagelo, a imigração etc.
E, nos anos 1950, vemos o Modernismo sendo oficializado pelo Estado de São Paulo como uma linguagem própria, com a criação de museus, Museu de Arte de São Paulo – Masp (1947) e Museu de Arte Moderna – MAM (1948), e a realização da Bienal de São Paulo (1951), colocando o Brasil no circuito das artes internacionais. No entanto, o movimento não ficou centrado em São Paulo, ele reverberou na década de 1920 pelos vários Estados brasileiros e algumas regiões, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, receberam grande influência no período. Também podemos perceber o movimento em Pernambuco. O fato é que o movimento da época modificou a paisagem de grandes cidades brasileiras e estabeleceu novo patamar para a criação artística nacional: seu consumo e sua exportação. A prova disso é a agenda intensa de comemorações de seu centenário, não apenas em São Paulo mas em outras cidades brasileiras.
Em São Paulo, as iniciativas se dividiram entre o poder público e a iniciativa privada. Na esfera pública, o destaque é a criação da Agenda Tarsila, uma iniciativa do projeto Modernismo Hoje, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, que reúne eventos comemorativos, conteúdos inéditos com informações, história, curiosidades e entrevistas sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, é considerada um dos marcos mais importantes da cultura brasileira e iniciou suas atividades ainda em 2021. Outro destaque é o Ciclo 22, da Universidade de São Paulo, um projeto que propõe reflexão sobre quatro grandes marcos (1822, 1922, 2022 e 2122), congregando iniciativas com o objetivo de tratar criticamente o bicentenário da independência do Brasil, o centenário da Semana de Arte Moderna e o Movimento Modernista no Brasil, bem como do tempo presente, com o objetivo de identificar desafios e de projetar futuros ao Brasil nos próximos 100 anos. Na iniciativa privada, a exposição instalada no Farol Santander chama atenção pela cronologia em unir datas e fatos.
Confira alguns destaques.
Farol Santander – “Identidades – 22&22&22”
Entre as exposições que comemoram o centenário, algumas trazem um aspecto amplo, como a realizada no Farol Santander, em São Paulo, que faz um paralelo em momentos importantes de nossa história. Em 1822, o Brasil alcançou sua independência e passou a ser Império, ato que influenciou a criação de novos símbolos culturais no país. Um século depois, um grupo de jovens artistas e intelectuais promoviam em São Paulo a Semana de Arte Moderna, movimento que abriu caminho para um novo momento na arte brasileira e que marcou o início do Modernismo Nacional. A mostra é apresentada em três andares e no hall de entrada, e reverencia a história e a contemporaneidade, propondo uma reflexão sobre a nossa identidade a partir da arte e de sua interface com outros campos de conhecimento. Entre os grandes destaques, está o imponente mural Tiradentes (1948-1949), considerado uma das principais obras de Cândido Portinari, exibido pela primeira vez fora do Memorial da América Latina. Tarsila do Amaral, uma das maiores artistas brasileiras, com sete obras exibidas, entre elas: “Autorretrato I” (1924) e “A Samaritana” (1911). Para os curadores, o desafio da exposição foi abordar os contextos social, cultural, econômico e político, nos períodos e ambientes em que viveram – e vivem – os autores, procurando revelar fatos e mitos da historiografia brasileira em três séculos de transformação, da tradição à modernidade e, sem dúvida, o resultado foi conquistado.
Serviço:
Exposição: Identidades – 22&22&22 – Farol Santander São Paulo
Quando: 22 de fevereiro a 22 de maio de 2022
Acesse: farolsantander.com.br
Theatro Municipal de São Paulo
O palco de 1922! Foi preparada, no cenário, uma mostra diversificada, assim como foi a original. Entre os dias 10 e 17 de fevereiro de 2022, uma programação especial ofereceu aos visitantes apresentações da Orquestra Sinfônica Municipal, do Coral Paulistano, do Quarteto de Cordas e do Balé da Cidade, além de ciclo de encontros, shows, sarau, expedições e diversas atividades. No dia 10, a celebração começou com a instalação artística Recostura, da artivista Chris Tigra, que permaneceu na fachada principal do Theatro até dia 10 de março. O ciclo de encontros, com a mesa Faltas, Fendas e Forças da Semana de 22, foi um momento para refletir sobre patrimônio e acervo em vistas do centenário. O Coral Paulistano trouxe um repertório de música coral brasileira, sob a regência de Maíra Ferreira. O público pôde participar da Expedição Modernista, inspirada na Missão de Pesquisas de Mário de Andrade. Nela, os participantes caminharam pelo centro fazendo paradas em três equipamentos culturais: Casa da Imagem, Biblioteca Mário de Andrade e Theatro Municipal. O objetivo foi experimentar o convívio e o fazer artístico, além de atualizar a memória sobre a Semana de 22, propondo diferentes maneiras de olhar a cidade, sua ocupação e sua história. Também em formato digital, o complexo cultural está preparando a publicação de um Índice de Fontes Documentais – As celebrações da Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal de São Paulo.
Serviço:
Essas exposições foram encerradas, mas o Theatro tem uma agenda anual de atrações.
Acesse: https://theatromunicipal.org.br
Museu Catavento – O Ateliê de Brecheret
O Museu Catavento optou por celebrar o centenário com a exposição “O Ateliê de Brecheret”. Em 1920, um animado grupo de artistas modernistas se dispôs a visitar o Palácio das Indústrias (na época, ainda em construção) e esperavam encontrar apenas o edifício que imaginavam desprestigiar, mas encontraram o “Ateliê de Brecheret”. Ao subirem a escadaria monumental do palácio, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Di Cavalcanti ficaram maravilhados com as obras daquele escultor discreto. Com apenas 25 anos de idade, Victor Brecheret, que retornara ao Brasil havia poucos meses, foi uma descoberta para os modernistas que buscavam a ruptura com a arte acadêmica tradicional. Elevado à condição de um dos ícones do Modernismo, ao lado de importantes nomes da intelectualidade da época, Brecheret foi o artista que teve o maior número de obras expostas na Semana de Arte Moderna de 1922.
Unifor – 100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará
A Fundação Edson Queiroz (FEQ) homenageia não apenas a importância da Semana de 22 como lança um olhar inédito sobre a produção artística do Ceará, exaltando a capacidade vanguardista dos artistas da região. Tendo como obra-símbolo a tela “Figuras (Seresta)”, de Emiliano Di Cavalcanti, a mostra reúne cerca de 150 trabalhos que manifestam uma vontade de renovação, mesmo sentimento que serviu como mote em 1922. A exposição privilegia a produção de artistas plásticos modernos e apresenta os primeiros passos do Movimento Modernista na Literatura, nas Artes Plásticas, na Arquitetura, na Fotografia e na Música do Ceará. “A ideia não é mostrar a influência do Modernismo nos artistas cearenses. É mostrar o que os cearenses estavam produzindo nesse período, mostrar que as produções aconteciam ao mesmo tempo, mas com características próprias”, explica a curadora.
Serviço:
Exposição: 100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará – Espaço Cultural Unifor
Quando: 22 de março a 31 de julho de 2022
Acesse: https://www.unifor.br/web/guest/espaco-cultural-unifor