A História da Infraestrutura no Brasil e o papel da mulher no setor



Para falar sobre a história da infraestrutura, é fundamental falarmos de políticas de governo uma vez que não existe infraestrutura sem governo. Sendo assim, convido você a mergulhar comigo neste breve histórico sobre o Brasil. Importante ter em mente alguns fatores intrínsecos a esta classe de ativos onde temos:
- Capital intensivo;
- Longo prazo;
- Riscos políticos, regulatórios e fiscais Esta barreira de entrada é também um “convite” ao monopólio natural, e podem, portanto, oferecer retornos constantes aos investidores.
Politicamente a infraestrutura também “rende frutos” uma vez que emprega um grande número de pessoas e é fator fundamental para o bem-estar social e para o sucesso econômico, como por exemplo facilitar o escoamento da produção possibilitando ganho de competitividade internacional. Tendo estes fatores em mente, iniciemos nossa jornada começando pela década de 70 vivemos o fim do “milagre econômico” (entre 1968 – 1973) época em que o PIB chegou a 11% de crescimento. Nesta época o governo tinha como objetivo nacionalizar a produção industrial e para isso energia e logística são essenciais. Obras estruturantes como a usina de Itaipu e a ponte Rio-Niterói foram projetadas neste período e projetos de mineração como Carajás e Trombetas também foram realizados no período. As crises do Petróleo, em 73 e 79 foram impactantes no mundo todo e como o Brasil importava cerca de 70% do petróleo consumido a economia desacelerou e assim, iniciamos os anos 80 endividado e com inflação galopante. Anos 80 foi a “década perdida” total estagnação, alta inflação, aumento da dívida externa e baixo crescimento do PIB. Sem crescimento econômico, e sem um planejamento sistêmico e com visão de médio-longo prazo a tão esperada universalização dos serviços de infraestrutura não acontecem o que contribuiu para perda de competitividade do país. No início dos anos 90 o ambiente econômico continua inapropriado para retomada dos investimentos em infraestrutura. Com Fernando Collor de Mello na presidência o país deu início a venda de estatais de siderurgia e petroquímica e com Fernando Henrique Cardoso e o Plano Real priorizou-se a estabilidade econômica, tivemos um câmbio valorizado e juros altos. O plano nacional de desestatização (PND) não foi capaz de reverter os baixos investimentos no segmento. Sem fôlego e sem foco no orçamento para investimento em infraestrutura, sem estabelecer marcos regulatórios estáveis e fortalecimento das agências, poucos avanços aconteceram neste setor nesta época. Alto risco para o investidor, longo prazo, volume alto também requer estabilidade política, segurança jurídica, credibilidade nas instituições para atrair o setor privado.

As próximas décadas, ou seja, anos 2000 e anos 2010, vimos o lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) se anunciou como um grande projeto, porém o resultado ficou muito aquém do esperado, concretizou-se mais como voluntarismo para atingir determinados interesses políticos e empresariais do que retorno real para a sociedade. Como efeito colateral tivemos ainda a implosão das empresas que atuavam no setor de infraestrutura, envolvidas com escândalos da Lava Jato e a credibilidade do país foi ao fundo do poço, afugentando potenciais investidores afinal, cenário de alto risco, capital intensivo e instabilidade; não combinam. Um orçamento, que passa pelo congresso, altamente comprometido com pagamento de despesas e fraco crescimento econômico leva a um baixo nível de investimento para priorizar planejamento sistêmico voltado a obras estruturantes.
O governo atual acertou ao delegar a pasta de infraestrutura a um corpo ministerial técnico e experiente. Podemos dizer que com investimentos em torno de 2% do PIB, o Programa de Parcerias de Investimento PPI conseguiu importantes vitórias e que merecem nossa total consideração. Seguem alguns números:
- 108 obras entregues em 2021;
- 49 pedidos para construção de novas ferrovias pelo Brasil;
- 12,9 mil km de novos trilhos;
- R$ 165,8 bi de investimentos projetados;
- R$ 462 milhões investidos em aviação regional;
- 22 aeroportos concedidos;
- Aumento de 5,5% na movimentação portuária;
- Mais de 2.000 km de novas pistas e revitalizações;
- 81 entregas ferroviárias;
- 39 leilões de ativos de infraestrutura;
- Cerca de 540 mil empregos gerados.
Para se ter uma ideia dos níveis de investimento necessários, tendo por referência a experiência de países desenvolvidos e/ou economias emergentes, uma relação entre % do Produto Interno Bruto (PIB) e resultado a ser atingido temos:
- 3,0% = apenas para manter o estoque de capital;
- 4%-6% a ser investido ao longo de 20 anos = alcançar os níveis observados atualmente na Coréia do Sul e em outros países industrializados do Leste da Ásia, ou mesmo acompanhar o processo de modernização da infraestrutura da China.
- 5%-7% = impulsionar o crescimento econômico e se aproximar dos padrões desses países.

Independente do capital privado e retomando o que foi falado no início deste artigo, não existe infraestrutura sem governo e portanto, a correta definição de diretrizes e prioridades, trazer transparência aos processos garantindo a credibilidade das instituições, manter a estabilidade política e econômica, garantir segurança jurídica e marcos regulatórios estáveis são fundamentais nesta equação. Nesta curta “viagem no tempo” pudemos ver que ainda há muito a se fazer e, portanto, o Brasil é sim um lugar cheio de oportunidades para investidores em infraestrutura. Desta forma, vamos juntos construir um país melhor e mais competitivo.
Importância da Mulher na Infraestrutura
A importância da participação da mulher na sociedade de forma ampla e irrestrita é fundamental para alavancar a economia e para equilibrar diferentes perspectivas e construir um mundo melhor. E antes de começar nosso bate-papo que tal dar uma olhada no último “Relatório Global de Gap de Gênero” do World Economic Fórum e conhecer melhor quais índices precisam ser mais bem trabalhados? 4 elementos fundamentais compõem essa análise sendo, participação na economia e oportunidade, educação, saúde e sobrevivência e poder político. Através da análise de dados de 156 países o índice geral de gap está em 68% e para fechar esta discrepância em todos os 4 itens no mundo serão necessários 135,6 anos. O fator com pior desempenho é relativo a poder político (22%). O segundo com menor alinhamento é o econômico e oportunidades (58%) seguido de educação (95%) e saúde (96%). Nestes 2 últimos itens, a pandemia criou rupturas nos avanços e, portanto, é hora de correr atrás do prejuízo. Estudos da McKinsey “Women in the Workplace” de 2021 também apontam o alto nível de stress (burnout) das mulheres com para equilibrar família, trabalho em pleno lockdown. Logicamente esses índices impactam de maneira diferente as regiões do mundo e os diferentes subgrupos, mas dá para se ter uma boa ideia da situação geral.


E na Infraestrutura onde é que estamos?
Em meio ao avanço industrial as mulheres foram conquistando espaços no mercado de trabalho. Mas a engenharia parte fundamental da infraestrutura, por muitos e muitos anos foi vista como uma atividade de “construção” logo “braçal” e logo masculina. Apesar da discrepância inerente a esta associação de gênero histórica, a presença de mulheres nesta profissão não para de crescer e a discrepância em salas de aula é cada vez menor. Dados do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), demonstram um aumento de 78% no número de mulheres registradas no Conselho nos últimos 9 anos, estando mais da metade atuando na Engenharia Civil. Além disso, estudos do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) indicam que o número de engenheiras registradas por ano no sistema teve um crescimento de 42% entre 2016 e 2018. Com objetivo de mudar os modelos e criar novos parâmetros para acelerar a diminuição do gap de gênero nasceu o Infra Women Brazil. Nossos 4 pilares são:
- Promover, defender, incentivar, dar visibilida[1]de e fortalecer a presença de mulheres no setor de infraestrutura;
- Promover o contato entre seus membros e entidades governamentais e/ou setoriais privadas envolvidas em atividades relacionadas à infraestrutura;
- Disseminar conhecimento técnico e de mercado através da produção de conteúdo, organização e participação em iniciativas e eventos que discutam o setor de infraestrutura, entre ouros; ed. Promover a troca de experiências, capacitação e mentoria entre seus membros;
- Organizar e participar de feiras, convenções, seminários e eventos que discutam o futuro do setor de infraestrutura, disseminando os impactos positivos da presença das mulheres no setor.

Iniciamos em 5 mulheres e hoje somos mais de 770. Nesta caminhada aprendemos e ensinamos, damos risada e lamentamos quando algo inusitado, como o vídeo montagem do Metro de São Paulo acontecem. Superamos e buscamos a inclusão sempre. Nesta caminhada, muitos são os homens que nos apoiam e demonstram ao mundo novos modelos de parceria e mudança. Acredito que estamos em um momento de feliz encontro, onde ideias e ideais se misturam para construir um mundo melhor mais plural e divertido. Vamos juntos nessa…
