A força do Agtech
Levantamento da consultoria 360 Research & Reports aponta que até 2026 a agricultura digital deve crescer em 186%, chegando a movimentar mais de R$ 40 bilhões
Profissionais de tecnologia do mundo estão passando por um grande momento de incertezas, já que companhias da área estão realizando demissões em massa desde o ano passado. Não é possível saber ao certo, mas estima-se que pelo menos 100 mil pessoas já foram desligadas de empresas de tecnologia até o primeiro trimestre deste ano. Levando em consideração somente as big techs, os números passam de 50 mil. A Meta demitiu cerca de 10 mil pessoas, Google (12 mil), Microsoft (10 mil) e Amazon (18 mil). As dispensas não atingiram somente trabalhadores de tecnologia, mas estes profissionais estiveram dentre os mais afetados. Com a movimentação atingindo também o Brasil – já que companhias nacionais e filiais das gigantes também dispensaram pessoas em território nacional –, muita gente se viu obrigada a repensar sua carreira profissional. E neste sentido, o agronegócio aparece como uma excelente alternativa para recolocação, já que o setor corresponde a quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Mas a pujança da agricultura e pecuária brasileira tem dificultadores como justamente a falta de mão-de-obra. A pesquisa “Profissões Emergentes na Era Digital”, desenvolvida pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), em parceria com o Senai e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que a longo prazo o Brasil deve precisar de mais de 150 mil trabalhadores para o agro. “Jovens que se formam em tecnologia principalmente em grandes centros urbanos acabam se esquecendo que o campo também necessita de vários dos conhecimentos que eles adquiriram. Nos dias de hoje, as lavouras e pastos também têm necessidade de soluções de TI, dados, inteligência artificial, cibersegurança e várias outras”, diz Leonardo Luvezuti, diretor de negócios da Perfect Flight, agtech brasileira que oferece serviços de gestão e rastreabilidade de aplicações aéreas e que está presente nos EUA e América Latina.
Oportunidades de TI no campo
Um levantamento da consultoria 360 Research & Reports apontou que até 2026 a agricultura digital deve crescer em 186%, chegando a movimentar US$ 8,3 bilhões (mais de R$ 40 bilhões na cotação do final de abril) em investimentos. Falando sobre a agricultura, a consultoria ressalta que há uma expectativa de crescimento vertiginoso no setor principalmente por causa do aumento da população mundial até 2050, que deve chegar a 9,7 bilhões segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A alta na população “resultará em um aumento radical na demanda de produção de carne e cereais”, salienta a 360 Research & Reports. Já visto como um dos “celeiros do mundo”, o Brasil terá ainda mais importância. O país deve ter “um crescimento notável ao longo dos anos” na agricultura, diz trecho de relatório da consultoria.
Com a alta possibilidade de puxada para cima na necessidade dos commodities – que são as matérias primas-básicas exportadas em larga escala pelo Brasil como a soja, milho, carne e açúcar –, os produtores rurais esfregam as mãos. Só que mesmo com a excelente perspectiva para o campo brasileiro, o fato é que além da falta de mão-de-obra especializada em tecnologia, o país também passa por problemas de formação. No caso, o agronegócio sofre com poucos profissionais com alguma especialização em tecnologia e ainda com o ensino defasado. Leonardo Luvezuti afirma que assim como acontece em praticamente qualquer carreira na área de tecnologia, os currículos em cursos voltados para a agricultura digital não se atualizam com a mesma frequência na qual avança o mercado. “A saída desse tipo de situação é válida para praticamente qualquer pessoa, esteja ela atuando com TI ou não. Já que o mercado de trabalho se move muito mais rápido que as universidades, é essencial se atualizar com cursos, palestras, workshops e fazer networking para sempre estar em contato com o que há de mais avançado que está sendo aplicado”, diz Luvezuti.
Carreiras de TI no agro
Com celulares, smartwatches, dispositivos com Internet das Coisas (IoT), televisores com comando de voz, chatbots conversacionais como o ChatGPT e várias outras soluções, é fato que a tecnologia está presente no nosso cotidiano da hora que acordamos até o momento que deitamos para dormir. E contrariando muitos preconceitos, quem trabalha e/ou mora na zona rural também tem contato com todos os devices do que quem mora nas cidades. Para se ter uma ideia, de acordo com uma pesquisa da Embrapa, Sebrae e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 84% dos agricultores brasileiros utilizam algum tipo de tecnologia digital na produção. Se há 20 anos os produtores utilizavam mapas físicos para se localizar nas lavouras, hoje em dia eles têm na palma da mão o controle de cada ponto de sua propriedade. Além da questão geográfica, aplicativos entregam a eles informações detalhadas e relatórios apontando se há a presença de populações de abelhas, por exemplo. Isso informa ao trabalhador que o defensivo agrícola não deve ser aplicado naquele ponto específico. Esta é uma das soluções da Perfect Flight, que utiliza o Google Maps para mapear as propriedades e oferece uma plataforma de gestão e rastreabilidade para aplicar os defensivos de forma mais correta e sustentável. O sistema é baseado na nuvem e por isso funciona em computadores e dispositivos móveis como celulares e tablets. Para construir o software, que já rastreou mais de 32 milhões de hectares e opera em mais de 100 dos principais municípios agrícolas na América Latina, a Perfect Flight contou com o conhecimento de diversos profissionais de TI como analistas e cientistas de dados. “A virtualização e robotização do campo é uma realidade e as pessoas não imaginam o quanto estas ferramentas são importantes para tornar o agronegócio competitivo. São raras as áreas da agricultura ou pecuária que não tem nenhum tipo de tecnologia embarcada para fazer algum tipo de acompanhamento”, explica Leonardo Luvezuti. E para os interessados em ingressar em alguma vaga de tecnologia no campo, confira algumas das carreiras disponíveis além de analistas e cientistas de dados:
- Operador de drone;
- Designer de máquinas agrícolas;
- Engenheiro de aplicação e suporte;
- Técnico em agronegócio digital;
- Engenheiro de automação agrícola;
- Engenheiro de software agrícola;
- Agro Digital Manager;
- UI/UX designer;
- Desenvolvedor de aplicativos agrícolas.
Como funciona
A Perfect Flight é uma agtech que presta serviços de monitoramento de pulverizações aéreas de defensivos agrícolas através de uma plataforma digital. O sistema da startup foi construído a partir de cloud computing, fazendo com que ele possa ser executado em qualquer dispositivo com acesso à internet. Os mapas do software de aplicação são baseados no Google Maps e permitem que os clientes visualizem em detalhes as faixas de aplicação e os talhões alvo, além das áreas de sobreposição e áreas não cobertas. O programa também possui relatórios sustentáveis que permitem que áreas de restrição como habitações, cidades, criações no campo, culturas vizinhas, colmeias de abelhas ou criações de bichoda-seda, rios, lagos ou minas sejam preservadas das pulverizações. A empresa, cujo sistema foi patenteado nacional e internacionalmente, é uma startup residente dos principais ambientes de inovação no agro, como o AgTech Garage e o Pulse Hub de Piracicaba (SP), além dos escritórios em São João da Boa Vista (SP), Rondonópolis (MT), Luís Eduardo Magalhães (BA) e em Iowa nos EUA.
PwC aposta alto na AgTech Garage
A PwC, gigante mundial em serviços profissionais, adquiriu no final de 2022 a AgTech Garage, maior hub de inovação aberta do agronegócio no Brasil e um dos maiores do mundo. Fundado em 2017, o hub conta com mais de mil startups conectadas a centenas de clientes de toda cadeia do agronegócio, atuando como protagonista de inovação aberta do setor. A aquisição reforça a importância do Brasil no agronegócio global e reafirma o foco da PwC no setor, onde já é líder inconteste. “Tecnologia e inovação são fundamentais para apoiar nossos clientes em diversas oportunidades e desafios que se apresentam diariamente no setor, sendo o principal deles, o de alimentar um mundo em constante mudança e crescimento populacional, de forma sustentável”, diz Marco Castro, CEO da PwC Brasil. “Temas como biotecnologia, rastreabilidade, eficiência operacional, data analytics, conectividade no campo, foodtechs, agro fintechs, descarbonização, proteínas alternativas, transição energética, ESG, entre outros, estão na agenda dos principais tomadores de decisão das empresas do agro”, reforça. “Essa aquisição é mais um passo fundamental para a consolidação e ampliação das soluções PwC para o setor e aumenta nossa capacidade de prever tendências, aportar conhecimento para nossas pessoas e nossos clientes e resolver problemas complexos”, acrescenta Maurício Moraes, líder global de Agribusiness para a PwC. Com a aquisição do AgTech Garage, a PwC passa a ser a única empresa no seu setor de atuação a, de fato, prover soluções inovadoras em toda a cadeia do agro.
Novo serviço
Em função da alta demanda de novas empresas no segmento de tecnologia no campo, a AgTech Garage lançou o “Habilitar”, que é um serviço que vem para acelerar a entrada de novas empresas na dinâmica da inovação aberta e colaborativa na cadeia do agronegócio, do campo à mesa do consumidor. José Tomé, CEO do AgTech Garage e sócio da PwC Brasil, destaca que o serviço responde a uma demanda do mercado que se tornou latente nos últimos anos: a preparação das bases para companhias de todos os portes tirarem máximo proveito do relacionamento com os diferentes atores do ecossistema de inovação. “Cada vez mais, as empresas precisam estar preparadas para se posicionarem de forma competitiva no ecossistema de inovação, o que faz a diferença para se tornarem parceiras de escolha dos empreendedores, universidades, investidores e produtores rurais”, diz Tomé. Ele estima que, hoje, em torno de 20% das empresas que buscam entrar na comunidade do AgTech Garage ainda não estruturaram sua gestão de inovação. “O Habilitar vem para resolver esse gargalo e auxiliar as empresas a trilharem de forma mais profissional e sistematizada suas jornadas de inovação, o que demanda estruturar a governança, definir processos e construir um planejamento para colocar seus objetivos em prática”, explica.