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No mundo

Fórum da Câmara de Comércio Árabe- -Brasileira estabelece bases para parceria estratégica entre Brasil e Liga Árabe com mais cooperação, digitalização, integração e complementariedade

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Composta por 22 países localizados no Oriente Médio e norte da África, a Liga Árabe vem se consolidando como um importante parceiro comercial e estratégico do Brasil.
Nos últimos 20 anos, as exportações brasileiras para o bloco multiplicaram por sete. Hoje
os árabes são a terceira parceria comercial do nosso país, atrás da China e dos Estados Unidos. Também é o segundo maior mercado para os produtos do agronegócio, atrás da China, além de um importante comprador de produtos de valor agregado.
Alguns dados-chave dessa relação: em 2019, o Brasil exportou para a Liga Árabe US$ 12,24 bilhões em carne de frango, açúcar, minério de ferro, carne bovina e grãos, além de vários outros produtos de valor agregado demandados em segmentos como construção, metalurgia, mineração, vestuário e outros. A corrente comercial, que é a soma das importações e das exportações entre o bloco e o Brasil, ultrapassou US$ 19,2 bilhões, sinal de que a parceria comercial caminha para um ponto de equilíbrio para os dois lados.
Além disso, chama a atenção nesta relação a grande complementariedade do comércio. Na via brasileira, o fluxo é composto de alimentos ou matérias-primas que no mundo árabe vão se transformar em produtos de valor agregado, em muitos casos por empresas brasileiras instaladas na região. O fluxo de produtos árabes, além dos combustíveis, inclui plástico, fertilizantes, minerais de uso agropecuário como o fosfato, sem os quais não é possível a agricultura e a pecuária no Centro-Oeste, hoje a região mais importante do agronegócio brasileiro. Outro ponto muito relevante é o fato de os árabes serem um dos mais importantes grupos de investidores no Brasil. Um levantamento da Câmara Árabe-Brasileira mostra que entre 2004 e 2019 fundos privados e governamentais de países árabes investiram aqui um total
de US$ 13,7 bilhões em áreas como manufatura, energia, concessões, indústria automotiva, extrativismo, logística e alimentos.
A presença árabe no Brasil na forma de investimentos inclui posições em empresas de renome, como a BRF, a maior produtora
de proteína avícola do mundo, o frigorífico Minerva, o maior exportador de carne bovina do Brasil, a Latam, a maior aérea do país, que tem entre seus acionistas fundos e empresas do Catar, além da DP World, com sede em Dubai e responsável por um dos terminais mais movimentados do Porto de Santos, por onde afluem 40% das exportações brasileiras.
Destacam-se ainda nesse contexto de investimento a atuação da marroquina OCP

A abertura teve a presença do ministro das Relações

que também decidiu estabelecer no Brasil uma planta de fabricação de fertilizantes para suprir o agronegócio com os preciosos minerais fosfatados usados na correção de solo e na nutrição animal. A catari LNG Limited tem uma parceria com a Centrais Elétricas de Sergipe para o fornecimento de gás natural para uma termelétrica no estado, instalação com
papel importante na regulação do sistema elétrico nacional.
Na via oposta, empresas brasileiras também têm forte presença no mundo árabe. ABRF, que tem na Arábia Saudita seu principal mercado no exterior, anunciou recentemente a instalação de uma planta frigorífica no país, em complementação à que já possuía no vizinho Emirados Árabes Unidos, especificamente no emirado de Abu Dhabi, ampliando sua presença física na região. Além de abastecer o mercado saudita, que é o maior importador
de frango brasileiro em todo mundo, a unidade vai facilitar o acesso do produto nacional a outros mercados na região.
A mineradora Vale há vários anos tem uma planta de pelotização de minério de ferro em Omã. Essa unidade processa praticamente sozinha toda exportação de minério de ferro do Brasil para a região, num montante que corresponde a aproximadamente 20% das receitas do comércio exterior com a Liga Árabe.
Há ainda outros casos de muito sucesso: a encarroçadora de ônibus Marcopolo há alguns anos decidiu estruturar uma planta produtiva no Egito que abastece o mercado local de 100 milhões de habitantes, além de outros países também. Também no Egito, a Intercement estabeleceu no país uma planta produtiva de cimento. Vale lembrar que o Egito construiu recentemente uma via adicional do Canal de Suez e está edificando uma nova capital administrativa não muito longe do Cairo.
O futuro dessa relação extremamente complementar e importante para todos os países envolvidos foi debatido em outubro último, no Fórum Econômico Brasil & Países Árabes, evento bianual da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e está se firmando como ser um marco nas relações bilaterais entre o Brasil e a Liga Árabe.
Com o tema “O Futuro é Agora”, o evento ocorreu no contexto da pandemia de covid-19, que obrigou seu adiamento e sua realização em formato online, para garantir a segurança dos participantes. “Quando concebemos

o fórum, imaginávamos que promoveríamos uma discussão sobre transformações iminentes nos negócios entre o Brasil e os países
árabes. A pandemia, no entanto, acelerou  várias dessas transformações. O futuro literalmente passou a ser agora, como o tema do evento sugeria. E acredito que o evento foi de extrema importância porque tivemos a ocasião de construir o futuro dessa relação já no momento presente”, afirma Rubens Hannun, presidente da Câmara Árabe-Brasileira, para quem as transformações de um mundo cada vez mais interconectado foram aceleradas pela pandemia do novo coronavírus e vão exigir de governos, entidades e empresas ações de cooperação mútua e de compartilhamento
de informações sem precedentes.
O evento teve a participação de autoridades do primeiro escalão das duas regiões,
entre elas, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e seu vice, Hamilton Mourão, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abou Al Gheit, a ministra da agricultura, Tereza Cristina, o chanceler Ernesto Araújo, o ministro de ciência e tecnologia, Marcos Pontes, além do secretário-geral da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafy, que comanda a entidade que pode ser comparada à uma Fiesp pan-árabe, além de outras personalidades importantes na relação bilateral, como Roberto Fendt, secretário de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, o embaixador Rubens Barbosa, Marcos Troyjo, presidente do Banco de Desenvolvimento dos Brics, Ana Maria Soares Valetini, secretária de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo de Minas Gerais,
Alexandre Guisleni diretor do Departamento de Promoção do Agronegócio do Ministério de Relações Exteriores o embaixador Afonso Massot, assessor da Secretaria de Relações Internacionais do Governo do Estado de São
Paulo, o senador Jean Paul Prates, presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes.
Também participaram Khaled Tash, vice-ministro de marketing e comunicação do Ministério de Investimento da Arábia Saudita; Abdullatif bin Rashid Al Zayani, ministro de Relações Exteriores do Bahrein; Ahmed Ali Al
Sayegh, ministro de Estado do Ministério de Relações Exteriores e Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos; Mariambint Mohammed Al Mheiri, ministra de Estado e Segurança Alimentar dos Emirados Árabes

Unidos; Ahmed Maghaoury, vice-ministro e chefe dos Escritórios Comerciais do Egito; Nasser Bourita, ministro de Relações Exteriores e Cooperação Internacional do Marrocos; Said Fregrouche, chefe da Divisão de Cooperação do Ministério da Agricultura do Marrocos; Ryad Mezzour, chefe do Gabinete do Ministério da Indústria do Marrocos; Khaled Al Osaily, ministro da Economia da Palestina; e Ibrahim Alzeben, decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e Embaixador da Palestina.
Em seu discurso de abertura do encontro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que “a relação entre o Brasil e o mundo árabe se encontra em seu melhor momento histórico”.
O presidente da República ainda destacou as oportunidades que se estendem para além das trocas comerciais ao lembrar a intenção da Arábia Saudita de aportar até US$ 10 bilhões em projetos de infraestrutura no Brasil por meio de seu fundo soberano. De acordo com o secretário especial de Comércio Exterior brasileiro, Roberto Fendt, esses aportes
devem “ajudar a recuperar a deficiência em infraestrutura que compromete a competitividade da economia brasileira e encarece o fornecimento de alimentos aos países árabes”.
O governo brasileiro, aliás, não perdeu a oportunidade de posicionar o Programa de Participações de Investimentos (PPI), como a porta de entrada dos investimentos árabes no Brasil. Em suas falas, Bolsonaro, Mourão e Ernesto Araújo fizeram questão de ressaltar o trabalho do governo para promover segurança jurídica, destacando a aprovação do marco nacional do saneamento e das concessões públicas na área de gás natural, que vão permitir investimentos externos nessas áreas.
O vice-presidente Hamilton Mourão foi além. Numa fala de forte teor diplomático, Mourão ressaltou o longo histórico dos laços entre o Brasil e os países árabes e de existir no Brasil uma comunidade de descendentes de árabes estimada pelo Ibope Inteligência e pela H2R Pesquisas Avançadas em 11,6 milhões de pessoas, segundo pesquisa feita a pedido da Câmara Árabe divulgada no fórum. Mourão ainda fez um aceno em favor de um maior equilíbrio na relação com os árabes, ao defender que empresas brasileiras utilizem países árabes para acessar mercados via reexportação. “Catar, Emirados Árabes e Omã, países que já são hubs regionais de distribuição de mercadorias, contam com infraestrutura, legislação específica e Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) com potencial para atingir pelo menos dois bilhões de consumidores”.
Em sua participação, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abou Al Gheit, sugeriu que os participantes estudem as fragilidades do comércio internacional expostas pela pandemia.
“Há oportunidades para as economias emergentes aumentarem sua vitalidade e presença
no cenário global, especialmente para sociedades jovens, com potencial humano e capital,
como é o caso do mundo árabe e do Brasil.”
Em vários outros momentos, a bilateralidade e o potencial estratégico da relação
apareceram na forma de oportunidades verbalizadas pelos dois lados, sendo a cooperação mais evidente na área de segurança alimentar, que engloba a grande vocação do Brasil para a produção de alimentos e a baixa disponibilidade de água e solos aráveis nos países árabes para alimentar 420 milhões de pessoas. “O Brasil fornece 50% dos alimentos
consumidos no bloco, sendo que para alguns países o porcentual chega a 80%”, disse em seu discurso Ruy Carlos Coury, vice-presidente de Comércio Exterior da Câmara Árabe.
Na pandemia, aliás, os árabes ficaram
muito preocupados com a continuidade dos

fluxos de fornecimento de alimentos e, não por acaso, demonstraram muito interesse em ampliar a cooperação com o Brasil, especialmente por meio de alianças estratégicas que garantam a eles acesso a alimento e proporcionem ao nosso país acesso a recursos. “As importações do Brasil ajudam a decolagem do nosso país, ao mesmo tempo que as nossas exportações de fertilizantes dão apoio ao setor agrícola brasileiro”, afirmou Mariam bint Mohammed Al Mheiri, ministra de Estado de Segurança Alimentar dos Emirados Árabes Unidos (EAU). Na mesma linha, a ministra da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil, Tereza Cristina, destacou que o Brasil está preparado para avançar no fornecimento de alimentos. “O Brasil demonstrou sua capacidade de cumprir seus compromissos internacionais mesmo em momento de crise, consolidando sua posição global de fornecedor de alimentos a preços competitivos com altos padrões técnicos, sanitários e fitossanitários”, afirmou.
Representantes dos países árabes apontaram, ainda, outras potencialidades, como o uso de zonas em terminais portuários para que os produtos brasileiros acessem com maior agilidade mercados da África e da Ásia.
“Somos uma porta de entrada para a região”, afirmou Ahmed Ali Al Sayegh, ministro de Estado do Ministério de Relações Exteriores e Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos. “Estamos prestes a determinar quais são os portos principais que podem ser aproveitados nessa área”, disse o secretário-geral
da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafy.

Acordos e Projetos

O Fórum Econômico Brasil & Países Árabes também foi ocasião de celebrar acordos que, segundo Rubens Hannun, o presidente da Câmara Árabe-Brasileira, vão criar as bases para novas formas de relacionamento bilateral entre o Brasil e a Liga Árabe. Um desses acordos estabelece que a Câmara Árabe terá duas novas bases internacionais estratégicas, uma no Cairo, capital egípcia, e outra em Riade, na Arábia Saudita. Os escritórios fazem parte do projeto de internacionalização da CCAB, que teve início em 2019, com a instalação de um escritório em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
O objetivo da abertura das novas unidades é facilitar o comércio, fomentar a internacionalização dos negócios e promover o intercâmbio cultural. “A partir do escritório em Riade, vamos trabalhar os portos da Arábia Saudita como hub, porque eles são importantíssimos e estão se desenvolvendo”, explicou Hannun. “E, na Nova Cairo [a futura nova capital do Egito], queremos que seja um hub para toda a África, ampliando horizontes para atuar no mercado árabe expandido.” Na mesma ocasião, foi assinado um acordo de cooperação entre a Câmara Árabe-Brasileira e a União das Câmaras de Comércio, Indústria, Agricultura e Profissionais na África (UACCIAP), que deve pavimentar a ampliação das relações entre o Brasil os países africanos. Um último acordo celebrado vai estreitar as ações da entidade  com a Associação dos Exportadores do Egito, a Expolink. A Câmara Árabe-Brasileira também apresentou durante o fórum um sistema que pretende revolucionar o modo como são feitas as transações comerciais entre as duas regiões. Trata-se do Ellos Blockchain, uma plataforma de registros de transações

Para Ahmed Abou Al Ghait, secretário-geral da Liga Árabe, o Fórum foi uma excelente oportunidade para ampliar as relações comerciais entre os dois povos

comerciais, bancárias, de compra e venda, importações e exportações.
O blockchain é um sistema que registra informações em cadeias de blocos de dados que pode ser usado para guardar documentos contábeis e de redes de suprimentos. Exportadores e importadores que usarem o Ellos Blockchain, por exemplo, terão disponíveis funcionalidades para facilitar e agilizar seu dia a dia com garantia de segurança, confiabilidade e rastreabilidade em suas transações. Poderão ofertar produtos e serviços e encontrar suas
demandas, agendar reuniões, receber estudos personalizados, ler notícias e conhecer os mercados brasileiro e árabe com profundidade.
O Ellos também elimina a necessidade de papéis. Todos os seus processos são eletrônicos e integrados de forma automatizada, com ganho de tempo e redução de custos.
“Governos brasileiros e árabes, entidades certificadoras, empresas de logística e serviços, entre outros, poderão fazer parte de uma mesma rede, garantindo que todos interajam e o processo seja realizado em conformidade com todas as partes envolvidas”, afirma Rubens Hannun.
Junto com o anúncio do Ellos, foi assinado no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes um memorando de integração desse sistema de blockchain entre a CCAB, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), as certificadoras Fambras Halal e Cdial Halal, e a TradeLens, uma plataforma de cadeia de suprimentos baseada em tecnologia blockchain desenvolvida em conjunto pela IBM e a operadora logística Maersk.
Também foram assinados acordos para a estruturação da Academia Halal Brasil, no sentido de fortalecer o halal brasileiro. Outro entendimento confirmou a adesão da Câmara Árabe ao Pacto Global da ONU, uma chamada para as empresas e entidades alinharem suas estratégias a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. A Câmara Árabe também firmou com a Apex Brasil, a agência de promoção de exportações e investimentos do governo, um memorando de entendimento para ampliar a cooperação entre as entidades
em suas ações comerciais.
O Fórum Econômico Brasil & Países Árabes alcançou espectadores nos cinco continentes. Rubens Hannun, presidente da
Câmara de Comércio Brasil Árabe, organizadora do evento, concluiu o evento lembrando
a audiência alcançada. “Nós conseguimos atingir os cinco continentes e estamos sendo assistidos por [pessoas de] 61 países diferentes”, afirmou na cerimônia de encerramento do evento virtual que ocorreu de 19
a 22 de outubro.
O evento teve 10 mil pessoas assistindo e contou com 20 horas de transmissão em três línguas. Além da plenária com debates, houve uma exposição em plataforma 3D, que contou com empresas árabes e brasileiras como expositoras, com 2,3 mil visitantes e na qual foram agendadas centenas de reuniões. “Fechamos o evento com um clima de otimismo
e entusiasmo que com certeza transcende o futuro da relação”, conclui Rubens Hannun.

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